A poesia de Jeová Santana Revista Kuruma'tá, 12 de agosto de 202212 de agosto de 2022 Jeová Santana chegando com sua poesia na Revista Kuruma’tá, via nosso inbox mágico, que só nos traz alegria e colaborações sempre preciosas. É Sergipe nas nossas páginas, com força e indignação pela palavra. DOROTHY Ó nossa devotada DorothyDai o denodado destemorPara derrotar os homensDe má vontade, sedentosDas riquezas dormentesNos espessos veios da floresta Deixai essa força dadivosaDo vosso corpo mirradoQuebrar a tunda do medoPara só espalhar a festaDessa luz bruta do verdeNos vastos mundos da floresta A morosa pena da lei até puneQuem não tem pena de nadaMas logo, logo ficam fanfandoOs mandantes e mandatáriosQue levam homens e mulheresA não ver mais o sol da estrada padre Josimo (1986)Chico Mendes (1988)Dorothy Stang (2005)Raimundo Nonato Carmo da Silva (2009)Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (2011)Emyra Wajãpi (2019)Maxciel Pereira dos Santos (2019)Paulo Paulino Guajajara (2019)Ari Uru-Eu-Wau-Wau (2020)Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa (2021)Zé do Lago, Márcia Nunes Lisboa e Joane Nunes Lisboa (2022)Bruno Ribeiro (2022)Dom Philips (2022) … TRÊS MERGULHOS NA GARGANTA DO BRASIL PROFUNDO 1. IGNORAR ANÚNCIOS A conversa daquela juízaCom esta anônima meninaNão me lembro de nadaMais ferino na retina Lembro sim, outra juízaQue envia outra meninaÀ cela cheia de homemMinha memória ilumina Aquela juíza tão saudávelCom cabelo todo alisadoNunca triscou na fomeNum quarto despejado Aquela juíza de sobrenomeNão circulante na raléNunca teve dor de denteNem tirou bicho-de-pé Aquela juíza a quererVer a menina a parirO fruto de um estuproFaz a luz da vida ruir Mas não posso imaginarEm circunstância igualOutra juíza viesse a usarA mesma medida do mal Preciso assim me agarrarA esse único pobre fiapoSenão me dano doidoVou me agarrar ao Diabo Pois só sob Sua batutaEncaro tal desmantelo:Nos olhos da tal juízaEstou incólume a vê-Lo 24.6.2022 2. AMARGAZÔNIA de novoo mesmo filmecom cortes de sangueà sombrado horror a borrarsem penas águas infindas tantas ideiastanto amor à causa verde se acabaremnum sacofeito lixo nem plantasnem pedrasnem povos o capital não alisadiz na lata para verimpunementepassar boiadas quer na bandeiraverde-amarelosó desordem assentarno coração da selvaa bandalheira 3. QUINTILHA DA VERGONHA ó minha pacata Umbaúbabatei o tambor da poesiacontra tribulação e tiraniapara não veres filho teuser trucidado à luz do dia Jeová Santana nasceu em Maruim-SE, em 1961. É professor titular da Universidade Estadual de Alagoas e da rede pública em Aracaju. É autor de Dentro da casca (1993; 2ª. ed. 2019), A ossatura (2002), Inventário de ranhuras (2006), Poemas passageiros (2011), A crítica cultural no ensaio e na crônica de Genolino Amado (2014), O internato como modelo educacional segundo a literatura: um estudo sob a perspectiva da teoria crítica (2015), Solo de rangidos (2016) e Estilhaços (2021). Participou das coletâneas Chico Buarque, o romancista: ensaios (2021) e Sobressaltos: Antologia de poemas contemporâneos brasileiros (edição bilíngue, França, 2022). É um dos colaboradores do site Brasil 247. A LeituraPoesia