Texto de Ana Egito —
Recebo uma carta escrita e postada de muito longe, de um amigo de longa data, há tempos buscava notícias, pensamento constante que voou com o vento, chegando ao destino certo na hora certa:
“Amiga, conto os melhores dias que juntos passamos, num calendário que criei colando folhas e flores que caem das cerejeiras, a sakura do meu quintal, é lá, um parque que abraça todos os seus visitantes, deixando a primavera pousar na nossa alma. O hanami reúne famílias, amigos, juntos, podemos fazer um piquenique onde celebramos os dias agradáveis da época, falamos sobre vida e de como dedicamos parte dela na intenção de harmonizar nossos pensamentos aos que por aqui passam colecionando mais que momentos, saudamos o milagre que é viver.
Imagino que com tantos afazeres, compromissos e responsabilidades do estilo frenético das grandes cidades, seja flutuante o momento de se resguardar nas horas mais calmas, à elas, desejo que exercite a boa respiração, pode parecer um ato ingênuo, mas tudo que se passa na nossa memória afetiva, será resguardado integralmente, e não se importe com a dolorosa saudade, ela não fere, cria asas e sempre chega como um sopro quente nos corações que também se sentem aflitos.
Escrever-lhe me pareceu providencial, deixo à sua imaginação me ver do jeito mais agradável, que seja minha imagem o espelho da sua alegria ao meu encontro, nem velho demais, nem jovem aos anos que já se passaram, firme e forte como um belo ipê-amarelo representando a cura do corpo e da alma, é assim que a vejo em mim”…
Dois dias se passaram, a carta ficou pousada na cabeceira da cama, aberta, como um retrato moldurado, a resposta seria uma visita surpresa com hora e data marcada no dia anterior, o telefone toca, chamada internacional, uma voz da embaixada me cumprimenta e lamenta a perda do meu grande amigo, sem parentes, escolheu a mim sua despedida a ser dita: “ame, o amor encontra caminhos que parecem perdidos, liberte-se de culpas, elas jamais serão boas conselheiras, seja sorte quando tudo parece finito, a vida é a eternidade dos nossos pensamentos, somos todos luz.