Brunno Vianna em prosa e verso


Recebemos hoje com alegria, na Kuruma’tá, o trabalho poético de Brunno Vianna. Historiador e escritor de versos, prosas e dramaturgias, Brunno acertou em cheio o inbox da Kuruma’tá com dois trabalhos muito bem-vindos, muito bonitos e significativos. Tê-los aqui é privilégio e certeza da força sem fim da poesia brasileira!


Esconderijo

O sol se esconde deles e eles, os meninos, se escondem do ventre. Venta entre eles. O esconderijo é de areia, terra e esperança. Tem poesia também, mas não é bonito o esconderijo. Hora de dormir. Um corpo aquece o outro enquanto as memórias tentam descansar. Uma memória aquece a outra e tenta esquecer. O dia seguinte será maior. Hora de acordar sem ter dormido. Hora de andar com os pés dormentes, com o corpo doente e sem direito a comprimido. Um destino diferente nos espera do outro lado da linha. Escrevo tentando alcançar o número máximo de caracteres. Caminho entre os frios das vírgulas. Coragem, menino, coragem! Grito incrédulo para, eles, para mim. Quem responde é um pássaro lá de fora. Há um pássaro, quem sabe, terra, quem sabe, gente. Deve haver. Eles, os meninos, caminham naquela direção. É lá mesmo! Veja como dá para sentir o cheiro de chuva, como venta mais forte. Será esse o Brasil que nos chama? Chego mais perto, no final da folha, no final da linha e vejo mais gente. Sim, uma fila de gente esperando o destino. A gente sente, a gente senta. Venta entre nós. Chegamos. Continuamos a esperar.

 


Elas

Elas moram no quilombo
Elas fazem tranças
Nos cabelos longos
Delas e das bonecas
Elas fazem tranças, elas fazem danças
Danças na Pedra do Sal
Fazem o Carnaval
Elas fazem a resistência
Fazem a existência de um país, que país
Elas alimentam, elas amamentam
Suas crianças e de outrem
Elas parem, elas partem
No navio deste Atlântico medo
Entoam, então, o cântico feito um amuleto
Contam de boca em boca a história do tempo.


Brunno Vianna é historiador e escritor de versos, prosas e dramaturgias. Venceu o Concurso Literário Machado de Assis, promovido pelo Jornal Extra do Rio de Janeiro, em 2008. Em 2016 venceu o Concurso de PoEsIa InStAnTâNea do Sarau do Bar e em 2022 conquistou o Prêmio Polo Cultural de Multiartes. Entre os textos que escreveu estão o conto Esconderijo e o poema Elas.