No futuro, Crosby morre

Texto de Toinho Castro

Montagem de imagem do Google Street View com foto de Nasser

Eu e Roberval costumávamos ouvir David Crosby , naqueles discos, Crosby, Stills & Nash e Déjà vú, esse com Neil Young. Era essa coisa meio hippie que a gente adorava. Lembro que assistimos, não sei se juntos ou separadamente, Woodstock no Teatro do Parque, numa sessão épica. Crosby morre e é disso que recordo. Eu e Roberval ouvindo esses discos lá na Imbiribeira. Lembro do nosso amigo |Artur, que detestava toda “essa merda hippie”. A gente o amava, justamente por isso, porque ele não deixava por menos. Ouvíamos música no apartamento de Artur, o Sandinista, do Clash, que acabou nas minhas mãos, cheio de dedicatórias confusas… para acabar nas mãos de Pedro Siqueira, que não sabe da assombração que ronda o disco. Assombração de longas noites, de poesia e amizades e caminhos partidos, corações partidos. Agora mesmo Crosby toca aqui na vitrola, uma edição de Déjà vu, comprada por intermédio de outro amigo, o Leonardo Martins. Almost cut my hair, com todas aquelas guitarras e aqueles versos, meio bobos e belos…

When I finally get myself together
I’m going to get down in that sunny southern weather
And I’ll find a place inside to laugh
Separate the wheat from the chaff
I feel like I owe it To someone, yeah

Escuto e a Imbiribeira não volta. Não sei por onde anda artur, se vivo ou morto, pra me dizer pra parar de ouvir essa “merda hippie”. E o fato é que essas músicas me lembram Artur, o que é maravilhosamente irônico.

Da calçada na Monsenhor Tabosa, Toinho e Beval do passado me acenam, e estiram o dedo médio em minha direção, porque não precisam de mim como preciso deles. Porque logo mais chegarão Melque, Boca de Cabelo, Behind, Côio, Dipilique, que morreu, e Luisinho. Tipo, “foda-se, Toinho do futuro! No futuro Crosby morre!”.

PS. O amigo Fábio Fernandes sugeriu escrever um livro com o título No futuro, Crosby morre. Fica a dica pra vocês mesmo, Fábio, escreve esse livro!!