Golpe de vista – Filme ensaio de Michel Schettert

Dica de Toinho Castro


Golpe de vista é um belo trabalho do cineasta Michel Schettert que precisa ser vista por quem ama o cinema, porque quem tem o cuidado de acompanhar a história do cinema brasileiro, sobretudo quando envolve o Cinema Novo e figuras como as de Glauber Rocha e Anselmo Duarte. É sobre essas duas grandiosidade da nossa sétima arte que Michel se debruça, tendo como vórtex, a realização do primeiro, e único, até agora, filme brasileiro ganhador da prestigiosa Palma de Ouro, no Festival de Cannes: O Pagador de Promessas (1962).

Se, enquanto ensaio, Golpe de vista analisa o entrechoque Glauder/Duarte e sua reverberação no cinema brasileiro, enquanto filme produz uma narrativa por demais poética, numa acertadíssima edição sobre imagens de arquivo. E há, ainda, numa espécie de pontuação a centralidade da câmera. De Dib Lutfi.

Anselmo Duarte permanece como um grande realizador e olhar para seu cinema, revisitá-lo, é necessário pra fazer, não só cinema, mas qualquer arte no Brasil. Golpe de vista é uma oportunidade cristalina desse olhar. Um filme curto, com muitas camadas e vieses, que merece ser visto mais de uma vez.

E você pode assisti-lo agora e tirar suas próprias conclusões e abrir seus próprios caminhos, no CINELIMETE:

Golpe de Vista, de Michel Schettert

Assista também a mostra online de Anselmo Duarte, com quatro dos seus filmes.


A convite do Cinelimite realizei este filme ensaio para a retrospectiva sobre Anselmo Duarte, primeiro cineasta brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes. Pesquisei muito sobre a carreira dele, lendo sua biografia (coleção Aplauso), escutando sua entrevista (Museu da Imagem e do Som) e analisando acervos de imprensa. No recorte que fiz, achei que a encrenca com Glauber Rocha não poderia passar batido e o desencontro com Dib Lutfi também não. Mas para além disso, devo dizer que Anselmo Duarte foi um apaixonado pelo cinema e resistiu à entrada da televisão nos anos 1960. Ele investiu tudo o que tinha para continuar fazendo filmes, mesmo sendo diminuído pela turma do Cinema Novo. Vereda da Salvação (1965, mesmo ano de O Desafio, de Paulo César Saraceni) é o símbolo de sua transformação estética, na qual a câmera assume uma mobilidade jamais esperada para a época. Este filme infelizmente foi censuradíssimo, tanto pelo governo quanto pelos colegas de profissão, mas que valeria a pena ser restaurado só pelo fato de apresentar questões sobre a fé.

Viva Anselmo Duarte, Glauber Rocha e Dib Lutfi! Este ensaio fílmico é para vocês.