Independência Poética: Dejanira Rainha Santos Melo

Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA

Poeta de hoje: Dejanira Rainha Santos Melo

Meu nome é Dejanira Rainha Santos Melo, sou mulher negra nascida em Periperi, bairro do Subúrbio de Salvador. Sou filha de um homem negro retinto que era carpinteiro, marceneiro e estofador: Aguinaldo Alves de Melo e de uma mulher considerada branca em Salvador, dona de casa: Celeste Rainha Santos Melo. Estudei em escola pública durante toda a minha vida e cursei a universidade pública. Formada em Letras Vernáculas e em Pedagogia na UFBA, entrei no serviço público na Rede Municipal de Ensino de Salvador em 2000. Mas exerço a profissão de professora das séries inicias do Fundamental I desde 1994. Sempre trabalhando no Subúrbio. Faço poemas desde muito jovem, mas nunca publiquei, tendo os meus cadernos e agendas cheios de poemas que faço nos momentos mais inusitados a partir de uma ideia, de uma angústia ou de um grande prazer que grita dentro de mim a qualquer momento do dia ou em qualquer lugar. Sempre apresentei meus poemas em saraus ou em festas de amigos e amigas, mas somente em 2021 tive a ideia de criar uma conta no Instagram para divulgar os meus poemas. Também recentemente resolvi procurar editoras para publicar livros físicos de poesia, principalmente o meu primeiro livro infantil de poesia a pedido das crianças a quem eu venho apresentando os meus poemas como uma das ações da Biblioteca Social Afro-indígena Meninas do Subúrbio da Qual sou guardiã juntamente com Luane Pereira. Escrevi o prefácio de dois livros de poesia: “O Amor Não Está “ de Jovina Souza e “Preto Ozado” de Lucas de Matos, umbos poetas negros. Participei de Flipelô em 2000 e da última Bienal do Livro em Salvador.

O que te inspirou a começar a escrever?

A leitura de poemas dos clássicos da literatura brasileira me inspirou a escrever. Os poema que lia na escola primária, como chamávamos na minha época e também no colégio. O texto poético sempre me atraiu e eu sempre demorei as poesias que eram trabalhadas na sala de aula. Ficava repetindo no espelho até não errar nenhum verso. A poesia foi um dos motivos de eu ter trocado a faculdade de Filosofia pela faculdade de Letras Vernáculas 1999.

O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias?

Fico muito tranquila, porque eu sei que é algo que passa e logo logo a palavra vai saltar da minha cabeça, brincando, querendo ser outra coisa, ter outra forma, dizer o óbvio de uma maneira inusitada. Eu só espero pacientemente a palavra ser tudo que ela deseja é quer ser: arbitrária por excelência, ilusória e criadora da realidade que desejamos ou até mesmo da que não desejamos.

Seu maior sonho como escritor(a)?

Atualmente eu tenho desejado muito publicar um livro físico.

Assunto preferido de escrever?

Valorização da mulher negra e da criança negra.

Um elogio para sua própria escrita?

Cada vez mais fluida, mas sedutora e mais atraente.

Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos?

Estou em vias de publicar. Procurando editoras.

Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita?

Justiça para o povo negro, desejo feminino lésbico e como trabalho com crianças faz 29 anos o universo infantil.

Qual dos seus poemas mais te define?

Redenção

Dei para acreditar
Que vou pro céu
Porque sou imperfeita
Porque amo o candomblé
Namorar com mulher
Tomar uma cerva
Em dia de canseira
Dizer palavrões
Quando caiu na feira
Imaginar o que existe
Debaixo da blusa da freira
Imagino a grande piada de Deus
Com o perfeito idiota
Que não viveu
Nem no pensamento
Nem no corpo tenso
Riu sozinha da imaginação
Fumando, sentada
Ouvindo um samba canção
Ascendendo numa nuvem
Tida de algodão
E de lá de baixo
Os que não treparam
Pensam na foda perdida
Na comida cuspida
No catarro sem cigarro
E querem outra vida
Para se redimir.

Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você?

A mais fácil é deixar a escrita fluir quando ela quer chegar. A mais difícil é tentar corrigir um poema depois que ele foi sentido e pensado do jeito que saiu da primeira vez. Eu fico achando que ele passa a ser uma outra coisa, um outro sentimento. Porque no geral eu escrevo coisas que sinto e penso a partir do instante. Eu fico sempre achando que se corrijo passa passa ser uma espécie de fraude d sentidos. E claro que isso é só uma viagem, mas eu viajo nisso.

Qual sua obra favorita de outro autor(a)?

Atualmente eu tenho me encatado cada vez mais pelo Livro “O Amor Não Está “ de Jovina Souza. É um livro inspirador e tem muito a ver com tudo que eu tenho vivido na atualidade.