A poesia de Giselly Corrêa Revista Kuruma'tá, 27 de janeiro de 202327 de janeiro de 2023 Inbox Kuruma’tá bombando de poesia! Hoje é dia de Giselly Corrêa, paraense que mora no Ceará. Estudante de jornalismo, aos 21 anos de idade e de sonho, Giselly abriu caminho até a gente e enviou dois poemas, que publicamos com essa alegria de missão cumprida, de chegar nesses Brasis todos, nesse Ceará querido e poético, de tantas vozes incríveis. Seja bem-vinda, Giselly! Portas da Kuruma’tá sempre abertas! conheci Jesus, minha senhora é uma mãe preta uma avó cozinheira,uma professora, uma artista,uma faxineira Foto de Willy Verhulst no meio de nós bateram à porta, atendi eram as irmãs da igreja e suas saias tão longas quanto seus cabelos “minha filha, você aceita jesus?”e ele mandou solicitação?repreende senhor, diz a senhora todo domingoé dia de evangelizarlevar aos perdidos como euo Deus, sua propriedadeo homem branco, o salvador criador dos céus e da terra, redentor logo esse Deus, tão diferente de mimMulher, trans, LGBTQIalém de tudo pecadorae sem um tostão pra contribuirQue Deus vai me querer assim? quando refleti me despedijá conheço Deus e seu filho Jesus pega ônibus comigo, pediu ajuda pra mimtá na rua, pedindo socorroimplorando aos próprios filhos piedadeamai-vos uns aos outrosnão é assim que vos ensinei? conheci Jesus, minha senhora é uma mãe preta uma avó cozinheira,uma professora, uma artista,uma faxineira e também a vagabunda que vocês julgam, apedrejam, persegueme todo vez que escuto Deus acima de tudoestremeço mas elas não foram embora sem antes dizer“deus esteja convosco”em um reflexo respondi:“Ele está no meio de nós” Brasil, 2022 Todo dia tento ser otimistaQuando sol interrompe meus sonhosacordo e penso“dia lindo, dia de ser otimista” Coloco pra dentro um café sem pão,Ligo a tevê,Desgraça, fome, trapaça, destruiçãoDesligo. É dia de ser otimista feliz, o vizinho me dizque o auxílio vai chegara gasolina baixar e o povo se armar daí atravesso a ruae um irmão me pede:água, dinheiro, comida, empregoDou um tostão, é tudo que tenho, perdão Subo no busão, passagem aumentouvou caminhando trabalharem risco a vida, a carteira,e a alegria de voltarmas tento ser otimista. oito horas me esperam, berros do chefe, trabalho duroe o salário compensa?mil-duzentos-e-dozemal dá pra merenda,pra parte da igreja, pro quilo da calabresaainda simtento ser otimista porque se minha mãe diziafilho, deus proveráser otimista não é mais uma escolhaé a única forma de continuar Versos de uma tarde de sábado, de trabalho, a 15 dias da eleição apesar de tudo, o otimismo Giselly Corrêa Barata é paraense radicada no Ceará, 21 anos, estudante de jornalismo que vez ou outra se aventura na ficção. A Giselly CorrêaPoesia