Texto de Toinho Castro
Começa a conversa sobre livros e leitura e tudo circula em torno do preço do livro ou que as livrarias estão acabando, que ninguém gosta de ler, que as livrarias estão acabando, e que o livro está caro e as pessoas preferem ir ao bar que ir numa livraria e as livrarias estão acabando.
É verdade. A onipresença devoradora e sem controle da Amazon está devastando o comércio tradicional de livros, a livraria. O que é uma pena, porque ir a uma livraria é um passeio e tanto. E cada vez mais as livrarias estão tendo que se virar para se tornar atrativas, porque o livro não parece ser suficiente para levar gente até elas. E tome sarau, clube de leitura, debates, encontros e outras virações importantes para manter o negócio de portas abertas.
Mas gente, e as Bibliotecas?
Dessa gente que lê, que eu conheço, que conversa sobre livros… não ouço um fonema sobre Bibliotecas. Essa ligação imediata do livro à propriedade (comprar livros), às questões capitalistas (preço livro e mercado livreiro), parece-me insuficiente para debater a leitura. E a Biblioteca? Onde elas estão? Em que condições de funcionamento? Como estão seus acervos?
A verdade é que não disponho de pesquisas ou informações suficientes sobre o tema. Nem mesmo sou qualificado para discuti-lo seriamente. Apenas sou acometido por essa sensação de que ninguém liga muito para Bibliotecas.
Discutir a questão do acesso à leitura pelo viés da livraria é muito excludente. Boa parte da população não consegue comprar livro, nem se for barato. Essa gente precisa da Biblioteca. Gente, eu preciso da Biblioteca no meu bairro, pra não ter que comprar todos os livros que eu quero ler. Porque eu não preciso possuir um livro. Eu só preciso lê-lo. Biblioteca é uma coisa que todo mundo precisa, ainda que na dormência do neoliberalismo selvagem não o perceba.
Bem sei que possuir um livro, ter um exemplar estacionado em casa, é algo ligado à nossa afetividade também, claro. Mas os livros da Biblioteca também são meus, e de quem mais vier. Dá pra criar afeto na Biblioteca. Quantas vezes eu vi num filme estrangeiro, desses bem bobos, um primeiro beijo na Biblioteca da escola?! Não são poucas as ocorrências de Bibliotecas nas produções norte americanas. Em Asas do desejo, de Win Wenders, a Biblioteca é frequentada por anjos.
O centro da vida comunitária precisa ser a biblioteca, e não a academia de ginástica.
Quando foi a última vez em que você ou eu fomos a uma Biblioteca? E não vale a Biblioteca Nacional ou o Gabinete Português de Leitura, pra tirar foto.
Pode ser que eu esteja muito errado nessas observações. Certamente tem movimentos legítimos, de valorização e resgate das bibliotecas. Iniciativas existem e eu e vocês precisamos nos posicionar melhor pelas bibliotecas e brigar por elas. A Biblioteca é esse espaço do sonho, da leitura fora da ótica do mercado; um espaço de imaginações e descobertas. Precisamos de mais delas espalhadas por aí, funcionando de verdade, com belos acervos, manutenção e gente boa trabalhando nelas, e gente vivendo o espanto de ler um livro.