O banzo e os afetos de Terezinha Malaquias

Muitas vezes, enquanto estou fazendo o jantar, eu observo da janela da minha cozinha um casal de vizinhos do sétimo andar, e sempre vejo os dois caminhando de mãos dadas. Isso me lembra os meus pais, eles caminharam juntos e de mãos dadas por quase cinquenta e três anos.

Hoje de manhã, bem cedinho, encontrei esses vizinhos no supermercado, que ca a cerca de um quilômetro do nosso prédio; eles empurravam um carrinho de compras. Quando me viram na entrada do estabelecimento, me cumprimentaram sorridentes e festivos. Depois nos encontramos novamente nas bancas de verduras, legumes e frutas. Assim como eu, eles vão e voltam sempre a pé.

Ela tem 88 anos e ele tem 92. Ela é alemã e ele, polonês.”

Você acabou de ler um trecho de Banzo e afetos (Páginas Editora, 2023), novo livro de Terezinha Malaquias, sobre a experiência da escritora, que vive atualmente na Alemanha, durante o peso e a dor da pandemia.

A palavra Banzo, termo com que pessoas escravizadas no Brasil se referiam ao sentimento de falta do seu lugar de origem, é uma palavra poderosa. Aprendi com minha mãe, que a evocava de saudades de sua cidade natal. Até hoje falo banzo… penso muito em palavras que são, em si, um poema. Banzo é uma dessas palavras. Carrego como amuleto.

Banzo e afeto, como diz o título do livro, atravessam suas páginas. É uma escrita simples, amorosa e direta. A intenção é lembrar ao leitor que a beleza e a felicidade podem estar, por exemplo, em contemplar o nascer ou o pôr do sol, numa xícara de café ou chá com quem amamos, ou ainda  receita da avó que segue sendo passada em frente a gerações”, explica a autora.

“O começo da pandemia me fez refletir muito sobre a vida. O processo foi mudando aos poucos. Teve dias que escrevi todos os dias, em outros dias não conseguia escrever, porque a dor e a preocupação eram grandes demais”, relembra. “Escrevo também como um processo de cura para mim e para o coletivo”. 

As seções do livro, crônicas, contos e poemas, atravessam as dimensões do pessoal e do coletivo, sob o contexto pandêmico em que o mundo mergulhou.

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Além de “Banzo e Afetos”, Malaquias também é autora dos livros “Do Jeito da Gente” (2021), com edições bilíngues Portugues-Alemão e Português-Inglês e “Menina Coco” (2018), em Português-Alemão — ambos títulos voltados ao público infantil —; além de “Teodoro” (2021), “Modelo Vivo” (2005) e outras obras e coletâneas publicadas em que é co-autora.