A poesia de Clara Bezerra

Seja bem-vinda, Clara, à Kuruma’tá. Te recebo com um abraço de conterrâneo, potiguar que sou, nascido em Natal!

Toinho Castro, editor da Kuruma’tá

Clara Bezerra é potiguar, nascida em Acari e criada em Cruzeta. Aos 15 anos foi morar em Natal para fazer o ensino médio. Na sequência, se formou em Letras – Língua Portuguesa e em Comunicação Social – Publicidade. Fez especialização em Planejamento Estratégico em Comunicação e mestrado em Estudos da Mídia. Trabalha com Comunicação Institucional e escreve de forma paralela, além de estudar psicanálise e dançar por prazer. “Roupa de Ganho”, obra publicada pela editora Paraquedas, é seu primeiro livro.

Água de anil

Vejo cenas
Pequenas pedras azuis
Desmanchadas n’água
Para alvejar, clarear
Misticismo, espiritualidade, intuição
A nódoa, a mancha, a sujeira que encarde
O que se dissipa pela mão
Esfrega, coloca de molho, estende ao sol
[para quarar

O tecido se enche do cheiro
Impregnado pela luz
É o tempo que diz
Qual a hora de enxaguar
A água ganha cor
Azul
É assim com a vida
A bacia
O anil
Estava tudo o tempo todo aqui
Só precisava mergulhar

 


valença

Que rio é que eu parto?
Que rota me reparto?
Que mar eu me reparo?
Se caço, corro
Se corpo, morro
Se passo
Mato

 


óvulo

De que sou feita
Eu?
De mares, paisagens
Paranoias, prisões
Navios negreiros
Veleiros, velas, porões
Escuro
Terras áridas, úmidas
Visões
Descobrimentos
Encantos
Eu, esse pedaço de dor
Dividida em tratados
Tordesilhas
Essa terra descoberta
Essas veias externas, expostas
Os caminhos
Os erros todos do mundo
Jorrando sangue, canhões
Guerras
Ressentimento de tudo
Os gritos de libertação
Tambores, canções
Essa que sou eu, aqui
Muitas que fui
Antes de mim
Muitas que fluem
De onde vim

 


No errático
Incerto
Destino
Amor

 


casulo

Um libertar-se
Próprio, profundo
Único e universal
Um desfazer-se
Até descobrir o prazer
Do fazer
De si
Grão
Solto e solitário
Tocar todos os cantos
Da pele
Ouvir todos os pontos
De areia
Até trocar
De pele
Para sentir
O outro
Sentir-se
Ouro
Em flor
De céu
De sal
De sol
Transformar-se
No seu valor
Mais grão
Espalha
Expande
Chama
Chão
Na teia
Ateia-se
De si
Enfim
Liberta
Libélula
Li bela