Texto de Toinho Castro
A pedra e a janela é o novo som do Avoada, coletivo formado no final de 2018 pelos compositores Juvenil Silva, Marília Parente, Feiticeiro Julião e Marcelo Cavalcante. Os quatro tocam seus projetos individuais, mas se uniram para criar canções sobre os tempos em que vivemos e para pegar a estrada com seus violões, buscando conhecer mais o interior do Nordeste e mergulhar na cultura do Brasil profundo.
E a novíssima A pedra e a janela, composição de Feiticeiro Julião, é a canção desse mergulho e desses tempos que vivemos, embora a palavra enfrentamos seja mais apropriada. É um enfrentamento, e o Avoada tá na linha de frente da resistência artística, dando a real (ainda se fala isso?!) a esse senhor, que posto no comando do país, pôs-se a reclamar de ser vidraça!
A música surgiu quando os escândalos da família do presidente começaram a surgir na imprensa. Ele, que no congresso era acostumado a esculhambar quem estava no poder, agora, depois de dois anos de mandato, afirma que sua vida virou um inferno, virou a vidraça. É o que nos diz Feiticeiro Julião, autor da música.
Ah, como era fácil ser pedra/ Ah, como é difícil ser janela
Mas, e isso é leitura minha, vejo também as pedras a voar contras as nossas janelas, justamente contra nossas janelas abertas, contra nossa amplitude de coração. Tanto que ali na música tem um verso:
Não, não pise no meu coração
Que num contraponto, na doçura rascante da voz de Marília, parece que fala do nosso próprio coração pisado, partido. Eita, que música boa é assim, com mil leituras, transversais, diagonais, paralelas e profundas. Botei pra tocar aqui A pedra e a janela, muitas vezes… deu vontade de cantar, de dançar, de correr e tacar pedra na vidraça suja desses que se apossaram do país. Mas não do nosso imaginário, não do vento que passa pelas nossas janelas abertas.
E essa música danada de boa vai vai fazer parte do EP do grupo, que está em gestação plena e sai ainda em 2021 (que esse ano precisa de coisas boas!).E resistimos com músicas assim, com gente assim fazendo música. Obrigado, Avoada!
Produzida pelo coletivo, a faixa foi gravada nas casas de Juvenil Silva e Marcelo Cavalcante, respeitando o distanciamento e as regras sanitárias desse momento de pandemia.
Recentemente, a Avoada tocou no Festival No Ar Coquetel Molotov 2021, após trabalhar intensamente o EP “Marília, Marcelo, Julião e Juvenil” (2019), com o qual circularam pelo interior e por capitais do Nordeste antes da pandemia. O EP contou com videoclipes das quatro músicas, filmados pela própria banda e que estão disponíveis no Youtube.
Viva!! Gostamos demais!