A música romântica popular brasileira tem nome: Conde Revista Kuruma'tá, 21 de janeiro de 202221 de janeiro de 2022 Texto de Aderaldo Luciano Foto originalmente publicada na Fanpage do Conde Só Brega! Em 27 de dezembro de 2021, o cantor João Gomes, do meio da caatinga, com seus camaradas, tomando café em um copo, de chinelas havaianas, camiseta, sanfona, violão e sax, gravaria seu último vídeo do ano. Com sua voz orientada pela tradição da vaqueirama, retira do seio do povo os primeiros versos da canção Espelho do Poder, chamando atenção para as catástrofes do sul da Bahia, chuvas violentas, desabrigados e esquecidos pelo poder central brasileiro. “Eu queria ter o dom de poder cantar/ igual aos pássaros que Deus fez pra viver/ livres para voar nesse azul sem dimensão./ Queria ter poder pra poder fazer/ você às vezes dizer sim ao invés do não/ pra fome, pra saúde, pra miséria, educação…” São versos fortes extraídos da canção romântica popular brasileira escrita por Ivanildo Marques da Silva, o Conde Só Brega. Recifense, nascido na Mustardinha, assinalado desde o berço pela tríade da música: a melodia certa, a harmonia exata, o ritmo do coração, Conde é o oceano para onde correm os rios e riachos da sensibilidade. Cresceu se alimentando dos clássicos nordestinos veiculados pelo rádio. É herdeiro de nossa música mais rica e florescente. É o senhor de nossos sonhos de amor, sem se distanciar dos problemas sociais, das dores físicas causadas pelo salário desigual. Conde habita com sua voz e performance nossas casas, nossos lares, nossas ruas, levada e trazida pelas ondas internáuticas. A música chamada de brega pelas elites econômicas, que em determinado momento se fundem com nossas elites culturais, foi responsável por sustentar gravadoras, executivo e cantores distanciados do povo. Elino Julião, Núbia Lafayette, Carlos André, Agnaldo Timóteo, Evaldo Braga, Carlos Alexandre, Ângela Maria venderam discos e canções por si e por toda a Bossa Nova, pelo Tropicalismo e pelo rock. A canção brega é a canção brasileira. A canção romântica é a canção brasileira. E Conde, hoje e agora, traz a Luz e o Som para dentro dessa tradição. Conde levou a canção ao alfaiate e lhe fez uma roupa sob medida. Levou, cobriu de seda e a produziu com a riqueza cosmética que lhe trouxe a alma para a superfície de sua pele. Ouvindo o DVD Livre Para Voar, no streaming de música ou no YouTube, somos capturados pela estética viva de um universo que não se perdeu e que Conde revigorou. Sua performance nos traz a época de ouro dos cantores de rádio, junta-se ao que de melhor se produziu em termos de romantismo e aproveita os novos caminhos sem se entregar ao modismo fácil, à batida repetitiva, à letra pobre. Voz firme e bem colocada, instrumental disciplinado, cozinha bem temperada, direção de arte afinada, roteiro elaborado e bem realizado: é o que nos oferece esse valoroso senhor de seu ofício. Aos 67 anos, momento em que muitos decaíram, Conde sobe vertiginoso ao topo da iluminação. Desbrava o céu azul sem dimensão. A Conde Só BregaMúsicaMúsica BrasileiraMúsica Romântica Popular BrasileiraPernambucoRecife
É sempre muito bom ler Aderaldo Luciano. A gente sempre conhece mais. Aprende mais. É um ampliar de horizontes sem pausa. Responder