O inbox da Kuruma’tá é uma caixa mágica. Uma caixa poética, por onde me chegam as vozes diversas desse Brasil múltiplo, singular. E hoje é a vez de Salvador, Bahia, nos encantar com a poesia de Lorena Lacerda, que nos chega numa flecha só.
Seja bem-vinda, Lorena! A Kuruma’tá é nossa!
Uma flecha só
No meio da mata
A onça me ataca,
Como um camaleão
Eu me camuflo
Ela não me escuta
E nem me vê
No meio da mata
Eu vou à caça,
E então me deparo
Com uma naja,
Mas como uma boa caçadora
Já tenho meu plano B
Na caça da vida
Sou atiradora,
Não fujo de batalha
Por mais que seja desesperadora
Na caça da vida
Vou com uma flecha só,
Analiso o perímetro
Cálculo os riscos
E atiro.
Eu atirei e ninguém viu,
Senhor Oxossi é quem sabe
O que a menina pediu.
As moças que todos temem
Não é novidade pra ninguém
Que mulher com poder
Respeito não tem.
Não é novidade pra ninguém
Que ter Maria no nome
Pode assustar alguém.
Mas… As Marias dessa poesia
São as mais temidas,
São as famosas Pombagiras.
Da calunga à estrada
Da malandragem de Navalha
Temem, mas sabem pedir.
As moças sempre te ajudam
Mas da mesma forma que o mundo faz com as Marias encarnadas
Depois delas fazerem sua “função”,
Falam mal
E descarta-as
Trovões
Trovejou,
Ventou,
É o sinal….
Ela levantou.
Saiam da frente,
Com a força do búfalo
Ela irá passar,
Mas não se preocupem,
Como uma bela borboleta
Isso vai te encantar.
Me ensinou que ser forte
Não é ser bruta,
Que a vida é uma luta
Que devo ganhar de forma astuta.
Ser sua
Vire o espelho para si
Se admire em cada detalhe
Se idolatre
Não, não é egoísmo
Você precisa está bem
Faça o que lhe convém
Quem me ensinou
Foi uma bela iabá
Que se enche de ouro
A riqueza de oxalá
Principalmente quando se encontra
Com as águas de mãe Iemanjá
Colha os lírios
Fique sob o clarão da lua
E sinta como é bom
Ser sua.
Sereia
Sim, sou sereia
Com minha pele preta
Meu corpo gordo
E de cabelo curto,
Sereia que canta em um tom grave
E tem posicionamento astuto.
Com olhar nem um pouco angelical,
Sereia de água quente,
Onde o mar quase pega fogo
Onde marinheiro passa e faz cara de desgosto.
O marinheiro queria…
A minha bela voz doce,
Os meus cabelos longos e pretos,
O meu corpo curvado, perfeito!
Ah… Marinheiro
O mar pegou fogo
O peixe palhaço deu sinal,
Por que essa sereia no seu corpo
Respeitou sua ancestral.

Lorena Lacerda é poeta, Auxiliar de Secretaria e estudante das Terapias Integrativas. Soteropolitana, amante de todas as vertentes da arte, umbandista que faz parte da curimba do seu terreiro, o Templo e Escola Umbandista Pai José de Aruanda, onde canta e toca atabaque. A escrita e a música são as bases que compõem quem é Lorena, e ela compartilha tudo isso no Instagram @ecleticalorena.
Poesias que tocam na alma da gente!
Sucesso sempre filha !!! Oxalá abençõe
Parabéns! me deixou emocionado