A poesia de Lí Coê na Kuruma’tá


“…acredito que a arte permeia minha vida desde quando me permiti vislumbrá-la como um horizonte, uma paisagem – no contexto geográfico mesmo, espacial, digamos – de multiplicidades, linguagens e, sobretudo expressividades. A arte é um respiro e num mundo em que poluição e o excesso de criticidade às formas de expressão individuais rotineiramente desgastam nossos pulmões, ela é a única que pode desentupir nossos brônquios e alvéolos.” — Lí Coê


Inter(minável)
               Terminei mirando

                  Sem flecha – Solei –

                                              No solar encontro do

          |     Interminável|

                            Terminei – terreno solo terra

                      Em ré-cife

 No (manguez)al

                                               Sal cor de rio – rio de mar

                                          Serpenteando serpentina       salgada

Em grão, gota maleável

     Ao vão oco da terra

                           Atmosfera, vento

     Soprando semente no solo em forma de sal

                                Intocável imã de luz fotossintética //solar//

                        Solando em ré cife de cá

    Tuque tuque tuque

   Maracatu, Maracá

      Afoxé, Ijexá

        Xequerê à solar

         Serpenteando \os caminhos\ a serpente coral

         Cor de sal interr \calado\

      Imutável

    Modifi(x)ado no início

     Feito flecha

           Que certeira serpenteia

        No ciclo interrompível do afeto

      Imutável inter /tornado/ 

No vagaroso gradativo

                                   (Des)fluxo dos rios de si

Em  m o v i m e n t o  e  fluidez 
Transmutáveis
    Que transitam corpos, corpas
     Vozes
   / /Intermináveis//


Sempre considerei a escrita uma “caleidoscopia” de possibilidades, onde milhões de fractais – letras -, podem ser organizados e desorganizados para construir e, ocasionalmente, (des)construir versos, textos, críticas e obras de arte. 

Nesse sentido, acredito que a arte permeia minha vida desde quando me permiti vislumbrá-la como um horizonte, uma paisagem – no contexto geográfico mesmo, espacial, digamos – de multiplicidades, linguagens e, sobretudo expressividades. A arte é um respiro e num mundo em que poluição e o excesso de criticidade às formas de expressão individuais rotineiramente desgastam nossos pulmões, ela é a única que pode desentupir nossos brônquios e alvéolos.

Dessa forma, me considero uma pessoa que busca observar a complexidade poética que rodeia a todos nós o tempo inteiro nas constantes construções e despedaçares de nós mesmos, na dança cíclica e poética da arte. 

Embora a arte seja essa ciclicidade breve, é idem inútil, conforme citou Leminsky certa vez. A arte, a poesia e a vida são inúteis, não por carecer de sentido, mas exatamente por não apresentar uma utilidade capitalista e objetificada. A arte, a vida e a poesia são dotadas de multiplicidades, “caleidoscopias” e sentidos e exatamente por isso são inúteis. E, viva a sua inutilidade ao sistema e à padronização iminente do capital.

Nessa perspectiva, agora, deixo uma brevíssima apresentação. Sou Lívia I. Coelho, mas meu nome artístico é Lí Coê – uma curta e breve abreviação de meu nome completo que criei para assinar minhas artes visuais e poesias -. Como citei, anteriormente, a arte está impregnada em todos nós e busco permitir que ela se expresse. Já participei de alguns concursos literários e tive a oportunidade de escrever ainda bem nova para o Jornal O Povo, em meados de 2017, onde iniciei o conhecimento sobre as múltiplas formas de escrita e suas “precipuidades” e fundamentações. 

Nesse sentido, já tive passagens idem pelo teatro, atuando e fazendo parte da equipe de dramaturgia do espetáculo Caligrafias, onde pude escrever e interpretar poesias autorais. Espero, poder, cada vez mais, espalhar palavras e suas multiplicidades pelo vento que urge e dilacera por expressão.

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