Poemas de Míriam Freitas Revista Kuruma'tá, 13 de julho de 202322 de novembro de 2024 Inbox mágico trazendo versos pra gente! Seja bem-vinda, Míriam! Escritora, mineira e doutora em literatura comparada. É professora no IFSUDESTE- Juiz de Fora. Publicou contos, ensaios, poemas e narrativas curtas. A memória é uma oficina de ossos (Urutau, 2023) é o seu quarto livro de poemas. A generosidade é um gole d’águana boca do deserto. SÓS Ficar sócomo um único peixe no aquárioé habitar no ventre a água de um mar sem violinos. SOBRE DOAR A generosidade é um gole d’águana boca do deserto. SOLIDÃO I Olhe para dentro,há o turbilhão das vozes,íntimas raízes, mortos que falam.O solitário não fala, mente.Traduz de si para sio calendário da alma.Dentro− realisticamente −ninguémninguém. PISCA- ALERTA Hoje acordeipara alimentar os pássarose libertar as criançasdos cardumes da violência. CONSTATAÇÃO Lendo (agora) um poema de Whitmansei que os cemitérios estão dentrode cada homemou mulherna travessia em direçãoao deserto das sombras. Sei que no útero da loucurareside a morte. (Também) sei queos hospícios são a morada dos pássaros. COMPRE NO SITE DA URUTAU Impermanência com disfarces sociais. Escutar o ar. Antes do tempo das cordas, de T.S. Eliot, e de um caracol que ressoa pelo mundo, de Octavio Paz, a poesia surgiu nos ossos. Cava. Na origem do vazio, sobra a sede de “Luz e sal”, o silêncio, a sombra de sua sombra, como bem dito por Alejandra Pizarnik, por aqui sopra sobras. Freitas parece se conectar exatamente com essa esfera quando apresenta A memória é uma oficina de ossos, obra de fôlego e de impacto, viajante dos símbolos da finitude, livro-nauta da sobrevivência de tuk-tuks nervosos, pois “de um relógio/à procura de novos instintos” permanecemos com um grito, sorrindo, alados. Viver também é grafar um piano constante: nestes densos poemas há vibrações de toques como uma “Sonata ao Luar”, de Ludwig Van Beethoven “embaixo das unhas/dentro dos ouvidos”. Mírian ludibria e convida “à caça do tigre de papel”, em um girassol espelhar refugiando a memória do mundo: porque somos ninguém no mesmo sonho, vícios à imagem prelúdica de “forças ciprestes”. E deitados ao sol, de repente, escutamos assobios, e você já me lê, ao vivo. Continue: “o corpo cresce:”. Mariana Basílio Poesia LivroPoesia