Jabuti pra Bianca

Por muito tempo na História, Anônimo era uma mulher.
Virginia Woolf


Bianca Garcia, queridamente, maravilhosamente, levou seu Jabuti, o prêmio, pra casa. Objeto dessa alegria? Seu livro breve ato de descascar laranjas, lançado em 2023, numa bonita noite de encontros e poesia. No meu exemplar tem uma dedicatória dessa noite. Estava lá, nessa apresentação que se faz de um livro ao mundo. Um momento auspicioso, como um ponto fixo na linha temporal. Com o breve ato nas mãos, já em casa, folheei o azul profundo de suas páginas e suas lâminas de memória, slides de cianotopia projetados no ar fino, rarefeito, que nos falta quando o luto. O luto que travessa o livro e nos atravessa, engasgando em alguma parte de nós, próxima ao coração.

Cerca de um ano após o lançamento, com Jabuti na estante, gente muito mais preparada falou e escreveu com muito mais propriedade sobre esse livro que eu. O que posso dizer, diante do meu computador em Vila Isabel, é que eu recomendo essa leitura, essas páginas tingidas de azul. Não por ser premiada, mas por ser necessária. Naquela primeira noite, de lançamento, já em casa, vi que o livro seria desses livros que nos orbitam. Que me orbita. Porque ao alcançá-lo, esticando o braço até essa estratosfera em que ele gira, eu alcanço uma palavra que preciso ler. Que ao ser lida, me transforma, sacode, acalanta, me desmente e me desafia a seguir em frente mesmo assim, ainda assim, apesar de, até que.


E esse Jabuti, que vem não só pra Bianca, mas também para a Macabéa Edições, essa editora linda que publicou o livro em parceria com essa outra lindeza que é a 7Letras. É a constelação das iniciativas independentes na literatura. Aponte para o céu e veja. Publicando exclusivamente mulheres, a Macabéa tem uma trajetória de luta e riqueza. Um catálogo impecável, que o Jabuti vem para reconhecer e fortalecer. Porque não é fácil publicar de forma independente, publicar mulheres e furar bolhas, publicar livros que são preciosidades visuais. Só tenho elogios e sou suspeito. Quero ser suspeito. Viva a Literatura Independente feita por mulheres independentes. Que esse prêmio signifique leitores.

Foto de Bianca Garcia

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Respostas a “Jabuti pra Bianca”

  1. Bianca Monteiro Garcia

    Muito obrigada por tanto carinho, Toinho! Ser lida por uma pessoa tão dedicada à literatura é sempre um presente.

    1. Revista Kuruma’tá

      Tamo junto, Bianca!!

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