Porque o céu é azul. Não, isto não é uma pergunta. Porque você fica rubro quando deixa-se acometer pela ira. Os arcos das íris, no entanto, permanecem coloridos. Mas ele não pode ver as cores. Monocromático, multidolorido. Daltônico, o semáforo é sempre de um amarelado perigo. Por isso permanece no quarto escuro. Trancado pelo lado de dentro e pelado, com os olhos esbugalhados, de fora. Há somente tons de breu. [Texto de Eduardo Frota]
Categoria: Eduardo Frota
Eduardo Frota é jornalista, escritor, barista, cinéfilo e ex-bonito. Escreve de texto institucional a bilhetinho de amor. Escreveu um livro de parágrafos, publicado pela Editora Jaguatirica, entitulado “Aqui jazem romances“. Escreve sobre café para diversas publicações do setor. Escreve sobre jiu-jitsu para a Gracie Mag. Escreve sobre o que faria se ganhasse na Mega-Sena: compraria uma igreja evangélica e a transformaria em um cinema.
Se não for a bomba, então será o dia seguinte
Quando olharam para o céu e perceberam que aquele ponto escuro cortando o ar era uma bomba, houve pouco tempo para procurar abrigo. Havia sinais de que tudo corria, de que tudo perseguia o fluxo. Não levou uma hora, mas também não levou um minuto. Os segundos que se seguiram após o lançamento foram inclementemente mudos. Era possível ouvir as engrenagens dos relógios de pulso. O curso do tempo, a pausa para o autoindulto, um súbito arrebatamento, transes em súcubus. [Texto de Eduardo Frota]
Sonhei com um mar que não era azul
Eu tive um sonho noite passada. Era uma praia de águas esverdeadas. Quase deserta, como se fosse baixa temporada. Permanecia imóvel na faixa de areia, debaixo de um sol inclemente, observando as ondas se avolumando para além da arrebentação. Lá no fundo, havia uma pessoa. Não, não era possível ver o seu rosto. Mas eu sabia quem ela era, certamente. [Texto de Eduardo Frota]