Na banca do Olivar

Texto de Toinho Castro



Saindo da estação Carioca do metrô do Rio de Janeiro, pela saída Rio Branco, a gente se depara com a cena cotidiana do mercado informal. Vendedores de produtos eletrônicos de origem e marcas duvidosas, raquetes para matar mosquitos, e toda sorte de coisas que mudam de uma temporada para outra; guarda-chuvas nos dias de chuva, leques no pico do verão. Mas entre as quinquilharias e o vai-e-vem dos apressados com seus compromissos a cumprir, temos algumas ilhas luminosas. São os vendedores de livros e discos que abrem seu espaço num dos centros nervosos da muvuca carioca.

De todos que ali seguem na determinação que é vender livros no Brasil, do jeito que for, a gente destaca Francisco Olivar. O cearense de Camocim traz na história de 40 anos trabalhando com livros e leitores. Livrarias, bancas de revista, feira pelo país e, por fim, o ponto estratégico na Carioca.Olivar e os demais livreiros que compartilham a saída do metrô são sobreviventes de dias melhores, em que havia mais de 20 pontos de venda de livro pelo centro do Rio de Janeiro. Hoje se equilibram no fio da navalha de governos que esnobam e sabotam o livro e a leitura, sempre correndo o risco de perder mais esse espaço.


Você chega na Banca do Olivar e o que pode parecer um caos de livros é, na verdade, uma mina de surpresas preciosas. Recebendo em média 500 pessoas por dia, é difícil manter os livros organizados. O que a gente vê, quando senta pra papear na Galeteria Cruzeiro, em frente à banca, é gente chegando e saindo com livros nas mãos. São romances, manuais de tempos perdidos, quadrinhos, poesia, revistas. Tudo a 2 reais. Isso mesmo! Chamo isso de resistência cultural.

Mas para além dos livros, o que vale mesmo é um bom papo com Francisco Olivar, que detém um conhecimento enorme e generoso da literatura brasileira, suas personagens e histórias. Olivar não é um vendedor de livros, ele é um livreiro, e como tal é um curador. Uma pessoa pra você colar, conversar sobre literatura e escutar o que ele tem pra contar. Nesses 40 anos Olivar acumulou e elaborou experiência, inventividade e conhecimento em favor da leitura.

Outro dia estava por lá e acompanhei uma garota comprando um exemplar de Iracema, de José de Alencar, um senhor já idoso arrematando uns belos volumes de uma coleção das obras de Jorge Amado, um vívido debate sobre poesia popular, o poeta Severino Honorato entoando seus aboios.

Quando a gente pensa em livro e Rio de Janeiro logo nos vem a mente a Biblioteca Nacional, o Gabinete Português de Leitura. Permita que venha também a imagem da movimentada saída do metrô da Carioca, a Banca do Olivar e o pessoal que com ele ali batalha nas margens do ecossistema do livro. Olivar promove ali na sua banca um ponto de cultura. De culturas, melhor dizendo. Em torno desse núcleo luminoso se discute, troca-se ideias, dicas de leitura; ali chega gente de todo o Rio de Janeiro e mesmo do Brasil, sem distinção de gênero, cor, situação econômica ou social. Políticos, moradores de rua, professores, artistas. Todos marcam presença. Convido você a participar também!

Estive com Francisco Olivar por esses dias e gravei para o ÁudioKuruma’tá uma breve entrevista. Breve porque Olivar tem que voltar pra junto dos seus clientes, conversar com eles, dar dicas. Vamos ouvir?


Uma das preciosidades que garimpei na Banca do Olivar!

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