Poesia Infiltrada

Texto de Lu Lessa Ventarola e Pedro Pousada

Coimbra, 20 de abril de 2019 Como bem se sabe, forças opostas se atraem. Tipo verso e reverso. Sorte e azar. Bem e mal. Goibada e queijo (minas). A velha atração dos pervertidos pelos lugares santos. Tecnicamente dizemos “para toda ação, uma reação de mesma intensidade só que em sentido oposto”. O que, em linguagem poética, poderíamos traduzir assim: quanto maior o abismo maior é céu sobre ele. É Lei – e a Física está aí para nos mostrar isso. As cidades também estão sob a jurisdição desta lei, como não? E assim, quanto mais uma cidade se apresenta em suas vestimentas formais e tradicionais, maior será o seu impulso disruptivo, sua sede de novo. É só procurar nas vielas e esquinas; escute a boemia. A tradicional Coimbra não foge à regra e já pude espreitar o melhor de seu lado B aqui e acolá. Uma das minhas últimas (boas) surpresas foi assistir a uma apresentação de um trabalho de Nelson Ricardo, um artista doutorando no Colégio da Artes. Foi ver vida sendo injetada na arte e vice e versa. E o bendito dia me concedeu ainda mais um presente: conhecer Pedro Pousada, professor e artista comunista e, de quebra, perceber que a poesia se infiltrou nas frestas da nossa conversa. 

– E então Pedro,
Que alegria [!]
É você um comunista.

– É verdade.
Desde sempre. Até morrer.
Sal e Azar.

– Então e tu?
Também comunista?

– Claro!
Alimento criancinhas.

– Não as come.

– Pois.
Adotei o Pois.

– É sintoma do conformismo português.
Perigosa patologia cultural.

– Eu gosto. Parece resposta imediata.
Como um Sim.
Como um ponto final dado pelo outro.
Construção coletiva de frase.

– Mas não: é um ‘não vale a pena’
‘Nada a fazer’.

– Aí é perigoso.

– É conformismo coletivo.
Falta impulso, o salto em frente dos gauleses.
Ras de Bol – e partem tudo.

– Ras de Bol?

– Significa: ‘PORRA ESTOU FARTO!’


Quem é quem nessa poesia infiltrada!

Lu Lessa é mineira. Tem manias. Tem arca com nomes escritos. Formação acadêmica: Direito na UFJF. Formação Artística: Parque Lage (João Magalhães, Gianguido Bonfati, Helio Eichbauer, Charles Watson – professores). Fundou o MAP – Movimento Armado de Poesia, e por ele faz oficinas em escolas públicas e intervenções urbanas. Faz exposições artísticas por aí. A mais importante delas foi uma individual no CCBB-RJ, em outubro de 2017, com curadoria do Helio Eichbauer.

Pedro Pousada (1970) é um artista plástico com uma extensa experiência no campo de Desenho contemporâneo. Gosta de ensinar e de aprender e na sua atividade de docente e investigador universitário tem publicado artigos científicos no âmbito da teoria da arte e do cruzamento entre cultura artística contemporânea e cultura arquitetônica. Mas quando faz o que faz não pensa que seja artista e tem muitas dúvidas sobre o que isso possa significar nos dias de hoje.