Onda Revista Kuruma'tá, 10 de junho de 201930 de dezembro de 2019 Texto de Terêncio Porto Depois de passar a vida fotografando surfistas em ação, admirando-os em sua fluidez e harmonia, um dia, entre um caldo e outro, esperando o surfista que esperava a onda perfeita, subitamente reparou na beleza que era a respiração do mar, e como a onda era a expressão máxima disso – o empuxo de mais de ¾ da superfície da Terra, possivelmente um volume maior ainda, proporcionalmente, não saberia dizer, mas num átimo pode imaginar -, a pele aquosa se repuxando num extremo infindável, aquele todo conectado com todo mundo ao mesmo tempo, uma centelha de alinhamento total, um ressurgir em forma de energia, em forma de onda, o flow perfeito e cabal, uma cadência natural, quase aleatória ou randômica, o caos, que muitas vezes simplesmente não acontecia, morrendo como prenúncio, o movimento perfeito das marés e correntes que se entrepermeavam e despistavam, tão intermináveis que eram. E de repente o surfista dropou, e ele pode ver como o rasgar da onda e todo aquele afã acrobático em vencê-la na velocidade era senão um inconveniente a tanta beleza, e a partir daquele momento começou, sempre e sem parar, a fotografar apenas as ondas, sozinhas em sua imensidão, congeladas. Gustave Courbet (French, 1819-1877). A Onda (La Vague), ca. 1869. Óleo sobre tela, 25 3/4 x 34 15/16 in. (65.4 x 88.7 cm). Brooklyn Museum, Gift of Mrs. Horace Havemeyer, 41.1256 Texto escrito sob a influência de Uma aprendizagem ou O Livro dos prazeres, da Clarice Lispector, e do Canal Woohoo. A CrônicaEsporteSurfTerêncio Porto