Querido Manuel

Poema de Nonato Gurgel


Coisa boa de editar a Kuruma’tá é estar no centro do Rio, bebendo um chope com o Braulio Tavares e receber uma mensagem do Nonato Gurgel, do querido Nonato Gurgel, com um poema para a revista. A sensação é das melhores, ali num tradicional bar no centro do Rio, lendo no celular um poema de Nonato, que diz ele não ser a versão final… mas que já é lindo.

Hoje chega-me a a tal versão final. Escolho a foto, de Janeide Cruz, amiga do poeta, para ilustrar o poema. O horizonte do mar de Macaé e o céu azul, os navios, uma evocação a Manuel Bandeira, esse querido.

Obrigado, Poeta!


Querido Manuel

Todas as noites
os navios acesos
dão lições de partir
rumo ao Sertão
Estação Baixada
Pasárgada próxima parada

Neste quarto de hotel
sei muito bem o que fazer com a maçã
mordo
como
retorno à pátria mística
e o seio da sereia sibila

Há dias sangramos assim
ela ele e eu derramados
todos a teus pés irmanados
no desabrigo da margem
que derrama gole pro santo
na ‘dor daquilo que não se pode’

A vida é feita de não ditos eu sei
mas todos dizem que o cuscuz
do Seridó é o melhor
do mundo e isso importa
eu já plantei hortas
hoje planto alegrias

Bandeira, meu amor
prometo rio e correnteza de volta
sertãozinho do Tinguá forever
sol de Paraty na cara
outro amanhecer
só encontra quem perdeu

Macaé-RJ, Agosto, 2019