A ventania na janela são flores pra ela

Para Bia Cardenas

Texto de Eduardo Frota


Era madrugada quando o vento, inquieto e insistente, deu início ao seu intento. Os sopros tentavam balançar as bordas das cortinas para descortinar o amor, a entrega, a conjunção carnal – o mundo inteiro que cabia naquela microesfera que era o quarto do casal.

Ele queria entrar.

Forçava os vidros da janela sem perceber que ela estava completamente fechada. Ao malogro, subiu corrediço pela fachada e procurou por uma fresta na porta. As pancadas se tornaram incessantes, barulhentas, desafiando o silêncio das horas. 

Lá dentro, o casal aos sussurros. 

Lá fora, o vento aos murros.

Em sublime união, os amantes permaneciam despercebidos. Havia, entretanto, um buraco na fechadura. E para tanto, o vento logo se tornou uma fugidia linha, intermitente e aguda, regendo uma espécie de sinfonia quase muda. Quase… Acalmado, já dentro do quarto, rodopiou pelo ar e envolveu o casal à beira do êxtase.

Arrepios.

Dois longos suspiros.

O vento avoado achando que foi ele quando, na verdade, havia sido o destino.


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