Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa: Buraco Negro Revista Kuruma'tá, 23 de novembro de 201912 de novembro de 2020 Texto de Fábio Fernandes O que era mesmo que você tinha que fazer no banheiro? Os olhos percorrem o armário escancarado atrás do espelho. Então você vê a caixinha de Tranxilene e lembra.Engole o comprimido em seco. O pior não é a perda de memória, você pensa. O pior é você não esquecer que está começando a esquecer as coisas. A consciência da perda é o que mais incomoda. Mas os médicos já desenganaram você: não tem jeito, esse tipo de doença degenerativa funciona assim. Chega um ponto em que você só conseguirá se lembrar de uma coisa: que não lembra mais de nada. E você já está tão anestesiado pelos remédios que nem consegue mais ficar triste com isso.Mas o que era mesmo que você tinha que fazer no banheiro? Você vê a caixinha de Tranxilene e lembra. Engole o comprimido em seco e vai saindo. Anda até a cozinha e vê as horas no relógio do lado do armário da louça. Você não tinha que ir ao banheiro? A ContoFábio FernandesLeituraLiteraturaPequeno dicionário de arquétipos de massaRio de Janeiro