O poeta em quarentena Revista Kuruma'tá, 18 de março de 202028 de julho de 2020 Todos de quarentena mas o poeta nos visita. Ou será o poema? O poeta então traveste-se em poema para driblar a reclusão, o isolamento, para visitar-nos e falar do vão profundo que se deu no mundo. É a janela que ficou aberta que deixou o poeta, ou a poesia?, entrar. Bem-vindo hoje, Nonato Gurgel. Poemas de Nonato Gurgel — Para Francisco Soares, meu pai. LIÇÕES DE QUARENTENA ‘Exilo-me, logo existo.’ a quarentena muda hábitos & gestos e gera um imaginário assépticode gel tupi no café da manhã lavo leio ligo celular luto via word email zap na feira orgânica quase vazia da General Glicério, as plantas os vegetais, raros, pareciam tristes nenhum veio comigo na padaria meio deserta asseptgel corpos distanciados na fila do caixacomo o brasileiro jamais portou-seserá que vamos aprender a só ser? JANELA SIM RUA NÃO A gente se fortalece quando está só, e a melhor relação com os outros é: o mais distante.Bertolt Brecht, dessa janela noturnaouço silêncios que vem das ruas de almas aflitaspós panelaço na República das Laranjeiras nem sempre olhar a cidade acalma, Waly mas objetos luminosos dizem i’ts all right e bichos em quarentena indagam se não foi assim que eu sempre vivi VÍRUS DE ALMA FECHOSA fecha bar fecha escolafecha teatro porto praia academiaparam as gravações da novela das 9fecham até cidades como Arraial do Cabo onde ninguém entrafronteiras de países fechamsó não fecham os 3 templos do capitalismo:o banco o shopping a igreja A Nonato GurgelPoesiaQuarentena