Seu Castro

Texto e poema de Toinho Castro


Ontem, 4 de abril, foi aniversário do meu pai, seu Antonio, ou seu Castro, que se vivo estivesse completaria 86 anos. Ainda estaria a contar suas histórias? Ainda sentiria, sentado na frente do nosso pequeno prédio olhando a rua, o peso enorme das distâncias até Imperatriz, Belém, Tucuruí? Exatamente ali, onde o vi tantas vezes fitar o arruado que levava até a Imbiribeira e à BR-101, exatamente ali começava o mundo pelo qual rodou por anos, sem saber como voltar. Sem saber para onde voltar.

Cadê você, seu Castro?
Em que BR Maranhão adentro,
em que posto Nassau noturno,
comendo agulha frita?

Por onde vaga essa
sua alma conflituosa
que desceu na terra
em Sertânia,
sem saber exatamente
pra onde ir ou o que fazer,
o que fazer de si?

Era um vagante
nesse mundo
e por isso viveu errante,
pelas estradas,
que nas estradas
era que se sentia
em casa.

Já em casa
era um estranho sem ninho
arremessado à poltrona
à TV e à ordem que o lar
impunha ao seu mundo
caótico, disruptivo.
Ao seu errar errático.

Onde, seu Castro,
a essa hora da noite,
está você?
De que telefone
ligará para a cabine
da TELPE naquele aeroporto
que não mais existe?

O que, em você,
ainda resiste contra a morte?
O que ainda lhe resta
daquela noite em que conheceu
minha mãe e ofereceu-lhe,
num curioso gesto de encanto,
uma lata de goiabada Peixe?

Penso às vezes, numa noite
como essa
ou varando uma estrada aberta:
Não nos deixe, seu Castro.
Não nos deixe.


Ainda hoje pergunto-me de que destino, talvez terrível, desviou-lhe aquela lata de goiabada, na noite do Arruda, no Recife, enquanto armavam a feira para o dia seguinte.