Poemas na quarentena – Wesley Almeida Paiva

Que a gente faça uma revista como a Kuruma’tá já nos anima, mas ver as pessoas enviando coisas pra gente publicar, isso nos ilumina! Ainda mais… ainda mais quando é poesia. Poesia é sempre bem-vinda e a Revista Kuruma’tá é uma casa de poesia, de poética e poetas. Sejam sempre bem-vindos. O querido Wesley Almeida Paiva enviou esse poema há tempos, e já devia tá achando que não apareceria nessas páginas. Mas o tempo de tudo chega e eis o poema dele publicado aqui com a gente. Potiguar da cidade de Alexandria (que nome belo, evocativo, de cidade…) Wesley é um seguidor fiel da Kuruma’tá e aqui ele desvela seu talento para o verso em meio à quarentena.

Bem-vindo, Wesley!

Poema de Wesley Almeida Paiva


Insone

Vem de longe o silêncio das ruas
– um silêncio estranho, forçado –,
que adentra o meu quarto e chacoalha
os meus ossos como um ruído
que só a mim perturba.

(Eu que sempre apreciei
a quietude dos campos,
reviro-me e não encontro
sossego nessa pseudocalma.)

Desço da cama; esfrego os olhos.
Lá fora tudo parece tranquilo,
menos aqui dentro.
Ligo a TV. Desligo.
As notícias não ajudam.

Retorno e deito; rogo pelo sono.
Enquanto ele não chega, reflito.
Talvez eu não seja esse ser
tão recluso quanto supunha.

Já é madrugada. Meio sonolento
faço o meu último pedido:
— Que amanhã seja acordado
pelo barulho,
por todos os barulhos
que incomodaram minha vida
pré-Quarentena.

Arte de Toinho Castro sobre fotos da pxhere.com