Movimentos Revista Kuruma'tá, 30 de julho de 202011 de março de 2021 Poesia tem seu lugar cativo na Kuruma’tá, ainda mais a poesia de Maria Cristina Martins, que sempre abre uma janela nova aqui na revista. Aqui ela nos apresenta três poemas de sua nova lavra. Adoro essa expressão, que vem de lavoura, de lavrar a terra. E não é assim que a gente faz poesia? E para completar, acompanha ainda o conjunto de três poemas, uma arte da série de trabalhos que Maria Cristina vem desenvolvendo com pintura. Tudo de bom na Kuruma’tá, graças a essa colaboração, esse encontro de gentes que sonham e escrevem poesia. Poemas de Maria Cristina Martins MOVIMENTOS 1. Cotidiano Não é que a poesia me cause dor nas costas ou me tire o sono da madrugada Não é que as crianças sejam caixas-pretascomo os cachorros quando latem demasiadodentro do silêncio De tudo o que viaté agoranada é tão doce e agudonem há vaga maior no mar bando de nuvens instáveis inconsciente projetadoparir poema ninar cachorroescrever criança 2. Impulsivo calmaolha pras tuas mãossangrando dos murros em ponta de facaanzóis fincados na bocateus lábios rasgadosàs vezes por nada o mundo é grande como o intestinoo mundo é pequeno como o dedo mindinhode um recém-nascido também cortosangro e faço sangrarquando me quebromas vidro sempre morre quando calma entrar na tua cabeçacomo apelido para teus disparosquando teus atos forem frios objetivos clarosalvos destacados no horizonteequilíbrio será teu nomecerteiro será teu faro 3. Contraditório desta feita pensei o contrárioque os rios são sempre os mesmosas águas evaporamviram nuvensdepois voltam na chuvae alimentam aqueles mesmos rios – Quando você choveutransbordou o rio que passavaatrás da sua casa decidi que meu objeto preferidosão os pedaços de cordaque guardaria no sótãocaso tivesse umpor suas duas funções opostas – Quando você dançava a fugir da sombraeu pensavano entanto é isto:a sombra a põe em movimento Arte de Maria Cristina Martins A AfetoLeituraMaria Cristina MartinsPoesia