Penélope 19 | Uma ópera doméstica de Armando Lôbo, com Gabriela Geluda

Texto de Toinho Castro


Amanhã, dia 19 de setembro, às 19h (No canal da CO.MO – Companhia de Micro-Óperas), estreia nas plataformas digitais uma das grandes e gratas surpresas artísticas desse ano pandêmico de 2020. A mini-ópera Penelópe 19, escrita e dirigida pelo músico pernambucano Armando Lôbo e interpretada pela atriz e soprano Gabriela Geluda. O tema é a quarentena que se impôs sobre nós, o isolamento físico que desde março desse ano emaranha nossas vidas por conta da Covid-19. Mais que isso, o tema somos nós mesmos, nas nossas casas, redesenhando o que somos e buscamos, o eco da nossa voz reverberando nas paredes, nos objetos, numa reinterpretação do mundo a partir desse ponto em que habitamos, o lar. É como se cada um de nós estivesse na matéria condensada de um big-bang prestes a expandir, mas que se contém em si mesmo ao custo de poderosas tensões.

Ter, nesses dias, uma ópera para ouvir, ver e viver, é um alento. Quando Aramando me falou pela primeira vez do trabalho e me enviou um link para assistir, pensei em como era auspicioso uma ópera para falar sobre o que estamos passando com esse mundo revirado pela Covid. Não pelo clichê disseminado do que seja uma ópera, mas pelo que uma ópera sempre possa ter de inesperado e intenso.

Por ocasião desse lançamento, no último 15 de setembro tivemos um papo muito bom com Armando e Gabriela sobre os caminhos de Penélope 19, que teve também a presença do querido amigo e parceiro Jorge LZ, do Programa na Ponta da Agulha e que você pode assistir no vídeo abaixo!


Assista também aos dois trailers produzidos para a divulgação de Penélope 19


Com linguagem experimental e ao mesmo tempo comunicativa, Penélope 19 é uma das poucas óperas existentes em formato de curta-metragem, a primeira brasileira. Uma transposição alegórica do épico para um apartamento do Leblon, em tempos de quarentena. Todos os sons da composição foram coletados na residência de Gabriela Geluda. Os utensílios domésticos foram processados de forma a se constituírem em texturas. Um instrumento tradicional indiano (também pertencente à soprano/atriz) serve de apoio harmônico em alguns trechos da obra. O único som que não veio do universo doméstico de Geluda é o de uma viola dinâmica sertaneja, que pontua o excerto de Pur ti Miro, de Monteverdi, em versão re-elaborada por Armando Lôbo.

Gravada em um único dia, Penelópe 19 contou com uma equipe enxuta e empenhada em fazer valer o mote Um smartphone na mão e uma ópera na cabeça! E funcionou lindamente e nos traz nesse redemoinho que nos engoliu, esse maelstrom, uma luz acesa, um norte criativo que motiva a manter a cabeça fora d’água e respirar fundo.

Equipe de Penélope 19


Com Penélope 19 inaugura-se a CO.MO – Companhia de Micro-Óperas, e com isso a promessa de que mais óperas virão!

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