Linha de Fuga. Set 2020. Os dias com Lula Pena. (ou: Canta-me, ó musa). Cante.

Texto de Lu Lessa Ventarola


COIMBRA. Por três dias andou-se sobre Sol. Como? Com Lula Pena. Foram só três dias, mas nestes atravessaram-se dias e dias e dias e dias. É mesmo assim quando o –três- consegue carregar em si um ciclo que se fecha: início-meio-fim. A serpente comeu a cauda. Encontramos o silêncio no cume da montanha dos sons. Lula propôs aos artistas que experimentassem o -piano- e eles entenderam o convite: ela, no fundo, queria que o piano fosse desafiado em sua concretude. Que os sons fossem respondendo aos seus próprios apelos. Que o compasso fosse buscado no descompasso – na trilha do erro, do experimentar. Pensamento serpenteou; penser-serpent de Valéry estava ali. [Note-se: o piano era de cauda.] A dado momento, no ápice, fomos todos [en]levados a um continuum, e, de relance, vislumbramos o Mistério que nos sobrepõe. A calmaria encontrada em meio à tormenta. Este silênciodesons, aconteceu no segundo dia – o MEIO. E assim se deu porque os artistas-residentes confiaram-se, em entrega, à convocação de Lula. Também, pudera… no primeiro dia – o INÍCIO, ela, feito musa, encantou a todos. Como se flutuasse em sua própria Voz (assim mesmo, com maiúscula) disse que -acreditava na poesia. E que -o silêncio era sexy. Quem, em sã consciência, não se deixaria levar? No terceiro e último dia: canções se costuraram em conversas. A poesia fez passagem na roda; jogada de um para outro, feito bola, como se todos estivessem em recreio de escola.

Por FIM, nenhum corpo segurou-se. Dançamos –

Foto de Lu Lessa Ventarola

Lu Lessa Ventarola, Coimbra, 19 de setembro de 2020.


Este texto integra a coletânea produzida pelo grupo Crítica de Fuga, que acompanha os trabalhos dos artistas e as atividades do Festival Internacional de Artes Performativas – Linha de Fuga.