O emissário

Texto de Toinho Castro


Da argentina chegam-nos inequívocos sinais da presença, entre nós, de alienígenas de outro planeta com seus corpos translúcidos e naves de brilho esverdeado. Nas noites sem Lua o Emissário vagueia ruas afora, levando a mensagem aos terráqueos. Algum bêbado já o encontrou, escutou a mensagem e partiu para nunca mais ser visto. Durante o dia quem pode dizer onde está o emissário? Quem pode seguir seus rastros fosforescentes espalhados por paredes velhas e automóveis roubados? Os guardas especiais patrulham as saídas da cidade com luvas especiais pois somente com elas poderão tocar os alienígenas de outro planeta. Eles não são daqui. Não conseguiríamos sequer pronunciar seus estranhos nomes.

Foi em agosto (ou terá sido setembro?) que fomos acordados por ruídos no quintal e depois sobre o telhado. Os cães ficaram silenciosos e os trouxemos para dentro de casa. No dia seguinte os sinais marcavam nossas paredes e os vizinhos começaram a nos evitar. Havíamos recebido uma visita do Emissário e agora era como se não fôssemos da Terra também. Somos portadores.

Esperamos, como todos os outros que vivem a mesma vida que nós, encontrar o emissário; então seguimos os sinais. Vamos agora juntar nossas poucas coisas e partiremos rumo a argentina onde encontraremos com nosso contato para compartilhar o medo que sentimos e a pressa que temos em reconhecer o ponto de transformação que já paira sobre o planeta, como um pêndulo que se aproxima. Dizem que do sul da Patagônia podemos enxergar a órbita estacionária das naves velozes e para lá muitos já seguiram. E se o Emissário estiver entre eles, silencioso e triste porque em breve terá que partir? E se desistiram da Terra e ele já partiu, com ordem expressas de nunca mais voltar? O que será de nós nas tardes frias da Patagônia, longe de casa?