Texto de Toinho Castro
Quando o sol brilha muito é bom nadar com nosso peixe predileto. Descer com ele até o fundo, onde dormem os restos do antigo galeão, afundado numa terrível tempestade de verão. E toda a sabedoria do mundo inteiro não é mais que a água do mar, não é mais que estar junto do nosso peixe predileto, conhecendo uma a uma as outras criaturas do mar e se assustando com algumas delas, de tão antigas e estranhas que nos parecem.
Meu peixe predileto me leva bem perto do vulcão submarino, e bem perto do abismo do fundo mar e me fala baixinho, no ouvido: “Lá embaixo estão as fundações da terra”. E fugimos como quem foge do medo mais terrível, e nadamos sozinhos, rindo, perto daquela praia cheia de gente que não nos entende. E se eles soubessem que eu estou ali, nadando com o meu peixe predileto comentariam que “isso não é possível… e as leis?! E o congresso!?…
Meu peixe predileto me mostrou que há correntes de água fria e correntes de água quente, e que o mar é um mundo maior que as ruas da minha infância. E eu lembro que na minha infância o mar era a eterna fotografia, preto e branco, enquanto eu andava em direção a minha mãe.
Obrigado, meu peixe predileto, por me mostrar o mar, por me revelar o mundo. Hoje eu durmo com sono e durmo tranquilo. E espero que todos tenham seu peixe predileto e que conheçam o fundo do mar tão bem quanto eu conheci. Então, quem sabe poderemos nos encontrar, todos nós, nas águas luminosas do oceano, dos rios, com suas criaturas e as nossas mães, numa foto preto e branco, de muito tempo atrás.