O afeto adaptado

Texto de Eduardo Maciel


Olá querides kurumateires!
Nossa, já não estava aguentando de tenta saudade! Espero que estejam todes bem e com saúde. E fazendo isolamento. E usando máscaras e álcool em gel. Sim. Mas não vim falar disso não.
Estou eu aqui no sofá, olhando o canvas imenso que chegou e que ainda está na embalagem (ele só vai pra parede na terça, não cabe em nenhum armário porque mede 1m20 x 1m60, e pra completar tenho 4 gatos de garras afiadas).
Pois bem. Estou eu aqui sentado, com meu cigarro e meu gin-tônica, e, numa troca de mensagem por WhatsApp, percebi! Percebi e signifiquei tão forte que me deu muita vontade de compartilhar com vocês.
Eu percebi! Tipo: indubitável, sabe?
Vou contar, sem mais delongas… Sabe aquela imagem de tempos mais leves e antigos, quando aqueles que se amavam romanticamente talhavam em árvores, de forma graciosa, suas iniciais com um coração as abrigando, como forma de deixar claro para todos que por ali passassem o tamanho de seu amor?
Então, gente! Não tem nada a ver com o “novo normal”, não o do tempo pandêmico! Mas um já não tão novo normal: a comunicação via internet, nos mais variados aplicativos de mensageria em tempo real.
Ressignifiquei essa memória no exato momento em que percebi que eu elegi alguns emojis especificamente para usar com algumas determinadas pessoas que eu amo.
E na fagulha da percepção, acabei achando exemplos de uso exclusivo de combinações fixas de emojis, apenas com essas tais pessoas…
Achei isso tão lindo, tão significativo…
Nos adaptamos, mudamos de formato e plataforma, mas se somos capazes disso, e duvido que ninguém aí se identifique, é por que mantemos essa raiz tão poderosa que é fazermos coisas especiais e únicas peles que amamos.
E saber que isso acontece, mesmo aqui no cantinho do sofá, qualificou ainda mais os dois coraçõezinhos cor de rosa que enviei pra ela ainda há pouco.
A gente passa batido pela modernidade num eterno apertar de botões, sem prestar atenção aos botões que apertamos, e pra quem. E com isso, acho que estamos deixando de aproveitar ao menos a faísca de poesia que pode estar em alguns comportamentos virtuais escondida. Essa faísca que tem o poder de nos incendiar a alma, assim, de assalto e tão sorrateiramente.
Faísca de amor.
Vejo as faíscas da brasa na ponta do meu cigarro. Tirando a parte dele que o cinzeiro fumou pra mim por estar aqui com vocês.
Sinto aquela vontade de dar mais um gole no gin. Assim sendo vou me despedindo por hora, mas deixo essa sementinha: não é que a gente faz homenagens usando emojis?!
Ainda em choque. Ou alcoolizado. Sem problemas: daria no mesmo, no final. Inté!