Dois anos dessa estranha melodia

Texto de Toinho Castro


Quando, em fins de 2019, o Spotify me enviou aquela geral com as músicas que mais escutei naquele ano, todas as músicas do disco Estranha melodia, da Livia Nery, estavam entre as primeiras da lista.

Em setembro eu tive a oportunidade de acompanhar de perto o querido Festival Levada, graças ao amigo e parceiríssimo Jorge Lz. Alguns shows, concorridos, aconteceram no LabSonica, do Oi Futuro. Um espaço especial, em que a apresentação acontecia dentro de um aquário, uma espécie de estúdio, com uma parede de vidro separando artista e a pequena plateia. Uma arrumação curiosa, que eu não sabia se daria certo. E deu.

Chegamos lá para ver a Livia Nery, artista de Salvador que estava ali justamente para lançar o Estranha Melodia. Eu não sabia nada sobre o trabalho dela e tudo que escutei ali, a energia que emanava de dentro daquele estúdio, me impactou imensamente. Livia redimensionou o espaço do Labsonica, com sua voz cristalina e a força e qualidade irrepreensível de sua música. O repertório era basicamente o disco. De uma lindeza, não vou dizer rara, afinal o Brasil é mesmos rico de talentos assim, mas peculiar, inesperada.

Saímos dali carregados na leveza daquele cancioneiro, que enveredava pelo Brasil profundo, sem se furtar ao moderno, ao eletrônico, não só como flerte, mas como costura do trabalho. Saímos dali impressionados e fomos, beber à potência dessa música. Estávamos eu, Raquel, minha companheira, Jorge e própria Livia e sua mãe, Zidi! Daí surgiram laços de amizade e um respeito enorme pelo trabalho da Livia. Que só cresce.

Éramos só alegria e não imaginávamos o que 2020 nos reservava.

Estranha Melodia tem sido um grande companheiro desde que o mundo desabou sobre nós. Um disco de audição recorrente. E hoje, 7 de junho, de 2021, essa joia completa dois anos. Completa dois anos com o país em quarentena, devastado e atravessando dias escuros. Estranha melodia fornece a luminosidade necessária pra gente enfrentar essa pauleira cotidiana. Acredito que é um disco que tem seu lugar reservado nessa história bonita da nossa música.

Nesse instante ele tá aqui no play, com seu lirismo, sua cadência, com seu Brasil acima e melhor que isso que tá aí. Tocando com sua empatia, a nos dizer “Aumente o som”.

Esse texto é uma pequena comemoração desse disco, porque gosto demais dele. Gosto da Livia, da Zidi, tão querida, do Jorge (e da Aline Falcão com seu talento aos teclados, que enriqueceu o Estranha melodia, e seu riso que não falha!). É uma comemoração pessoal, desses grandes encontros que a vida proporciona. Nessas horas dá saudade do mundo pré-pandemia, e nos vem, de algum modo, a certeza de que vamos recuperar o que nele havia de bom.

“Deixa o sal limpar, deixa o sal limpar”

Hoje Livia nos surpreende com a bela Superego, uma música inédita, que ficou de fora do álbum que agora é revelada. Que presente! Vamos escutar e compartilhar com as amizades.


PS. Nesse mesmo dia do show da Livia, conhecemos a talentosa e querida demais Caru! Outro grande encontro, de gente que vem pra ficar! Um dia e tanto!


2 comentários

  1. Toinho querido, qtas boas recordações. Me lembro daquele dia como se fosse hoje. Do show, do nosso encontro, que da minha parte deixou entre nós uma firme amizade, bem querer.
    Fico muito agradecida pela sua generosidade ao comentar sobre Livia e sua Estranha Melodia.
    Dois anos, fechando um ciclo de muita potência, oferecendo-nos esse brinde, Superegos, que amo e já conheço desde a sua gestação.
    Com certeza há de vir uma nova safra de boas músicas , num futuro próximo. Espero. Desejo.
    Bjocas pra vc.

    1. Zidi, como já disse, vocês são do coração. E o Estranha melodia é um disco que veio pra ficar e ocupar o lugar que ele merece na nossa discografia brasileira! Um trabalho lindo, fruto de muita garra e amor pelo que se faz, né?! Estamos juntos!

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