“Vovó falou que tenho sopro divino no peito” — A poesia de Iyadirê Zidanes Revista Kuruma'tá, 15 de junho de 202115 de junho de 2021 Recife e Olinda são cidades que existem num plano poético, cidades narradas. Existem porque são contadas. Então poetas, nelas, não falta. E ser poeta de lá é ser poeta de si e de além. Nesse contexto, nessa linha imaginária de poetas, se encaixa Iyadirê. Faz tempo que a conheci, de passagem pelo Rio de Janeiro, vívida, límpida, atenta, elétrica e suave. Assim sua poesia , uma vez que a li, não me surpreendeu em sua lindeza, e me surpreendeu, naquele susto, súbito de ler algo que encanta. Há tempos tô de olho nesses versos e hoje os publico na nossa Kuruma’tá. — Toinho Castro, editor da Kuruma’tá Poesias de Iyadirê Zidanes Mar majestade Batesse como ondaMar aberto, eu seiSão lindos seus recortesÉs imensidãoSou barco flutuanteE vejaO tempo é reiTu pleno movimentoEu embarcaçãoTe queroPercebaJá disseNão negoTeus olhos marejam, me trazem pra pertoMergulho intensoParalisa tempoE converso com o rei pra ter tu mais pertoNão sumaConsome todo meu encantoFlutua meu versosParalisa tempoBatesse como ondaMar aberto, eu seiSão lindos seus recortesés imensidãoTeu colo maresiaEu embarquei. Sopro divino Vovó falou que tenho sopro divino no peito,Sopro divino no peito.Dos tempos em que tinha menos concreto pra se olhar,Menos concreto a se pisar.Dos tempos que as pessoas olhavam para cima e tinha estrelas como nossos olhosque brilham, jaboticaba.Que o chão tinha terraVovó falou que tenho sopro divino no peito,Sopro divino no peito.Igual às árvores que balançam com a força da água que passa na beira do rio.Vovó falou que tenho sopro divino no peito,Sopro divino no peito.Me contou que peito forte temos todos nós,Nós! Que vivemos a ser desafiados…Aquele que já nasce condenado…Quem consegue sorrir mesmo suportando o peso do fardo.O fardo?Sim, de ter nascido com o sopro divino no peito.E eu que tenho sopro divino no peito!Igual riso de criança pedindo confeitoTenho sopro divino no peito.Soprodivinono peito! Pelas tabelas Ninguém sabe da missa um terçoE quem se atreve a ter razão?Distancias dialogaisMais que conforto, estratégia…Tanto desencantoMas não vale dar a face pra vida baterMantenha seu eloQue já basta no peito uma vontade bigornaE um desejo martelo.Limpe o pensamento, acho que o tremor e até a parte que sai de mim.Vontade que escorre não para,Esses desejos tudo pedra que não dá pra furar…Mantenha seus elosQue já basta esse desejo marteloE essa vontade bigorna! Permear Dizem dos corpos que deixam outros corpos passarem através de seus poros,permeáveis.Antes de questionar se toquem!Para questionarou para tirar a dúvida seao menos você transpassaria.Talvez gostaríamos tanto de ser impermeáveisIMpermeáveisMesmo permeando por todos/ por nós/ por esses/ aqueles/ os outros.Precisamos mais moldar?Assim como as gotículas atravessam nossa pele ou como o toque que de transpassararrepia!Imagina se tu se apaixonasse?Que tal se apaixonar por você ?Por ela?Poderias transpassar pra tuO que tanto derrama. Deleite Deleta-me de tua mentedeleta-me de nossos planosminha mente em panos quentes…Deleto-a-ti.Deixa queimar as pontas dos dedospara me soltar sem pena depois de tragar-me ao fim.Por fim, me amassa, recolhe as cinzase limpa teu cinzeiroaté que não haja uma fagulha de mim. A