Marfê na Kuruma’tá Revista Kuruma'tá, 18 de novembro de 202118 de novembro de 2021 A conexão Maranhão está a todo vapor! O poeta Felipe Gabriel, ou Marfê, , que nos chega altamente recomendado pela também poeta Micaela Tavares, traz pra gente uma poesia carregada de força contra a roda que esmaga gente, mas também fresca, vívida, amorosa, vibrando ao sol. Bem-vindo, Marfê, à Kuruma’tá! EU RECONHEÇO AGORA Quando quis ser doce, fui amargoQuando quis ser companhia, fui a peça errada que não encaixouFoi mal pela falta de tato, pelos meus olhares perdidos, estava tentando resolver todo caos interior A gente se amou no tempo errado Como eu poderia ser o seu o sonho, se eu era a sua insônia?Eu sei, eu sei, você realinhou a sua rota e eu fico feliz por isso, por favor, acredita em mimSei que foi bem melhor para nós dois a distância, nos regulamosDescobrimos um novo ser dentro de nós, cada um em seu próprio apê, colocando seus próprios estilos musicais bem distintosVocê colocava Vivaldi – La Primavera e eu colocava Liniker – Psiu Você optava por beber uma cervejinha no barzinho que a gente amava e eu decidia me arrumar para mais tarde assistir à uma peça dramática para despejar toda a minha saudade de você naquele lindo teatroE assim eu finalmente descobri a falta que você faz, me desculpa SABE NADAR? Feche os olhosEscute o mar Respire fundo Abstrato exclusivo só pra quem sabe nadar no meu marSabe nadar? Nade em mim, sinta a minha água salgada e deixa eu te temperarDê um bom mergulho e fale “que delícia”Sabe nadar? Cuidado para não afundar nos meus textos molhados, a correnteza é confusa e não faz sentidoSe eu puxar você para baixo, você estará no topoO salva-vidas da ilha se chama “ALÍVIO”, sim, o mesmo que a gente sente de chorar por horas Sabe nadar? Não? Não tem problema, eu abrirei, com meu tridente, o caminho certo para você chegar à beira do mar da renovação SUMI, VIREI ARTE IMATERIAL Não poderás mais me abraçar Não poderás mais me beijarTalvez poderás me sentir, porém no âmago da madrugada e de forma surrealNão te prendas a mim, até porque não sou mais um, virei muitosSumi, virei arte imaterial Não sei se terás dificuldade na reflexão, introspecção cruelMe observarás no seu ouvido e no seu estômago embrulhado Sumi, virei arte imaterial Amarelo queimado fictício Vermelho sangue surrealRoxo desconfortável interiorAzul tristeza temporárioVerde misterioso sinistro Marrom despelado eternoSumi, virei arte imaterial E ainda me procuras. ÚLTIMO TIRO Eu nunca ganhei flores, mas me nego recebê-las somente em um funeralOs 80 aplausos foram silenciados e transformados em 80 caçadores de alma e nunca escutarei a música desse meu irmão de corA vermelhidão que eu gostaria de ver era a de um guará alçando voo à beira-mar, e não espalhada no asfalto quente ou no chão de terra batida, consegue entender?Quando será o último tiro?Dizem que a vista do último andar dos apartamentos é sempre a mais bonita, menos naquele 2 de junho, gostaria de ver aquela criança cheia de vida sonhando maisAcordo, esquento o café, vejo o jornal anunciar mais uma morte e volto há 2018 me perguntando “Quem será que matou?”Os tiros tiram e tiraram a vida dos meus irmãos!Os tiros tiram e tiraram a vida dos meus líderes!Ergo o meu braço direito com a mão fechada!Uso preto para expressar minha força e minha dor!Não pense que sou amargo, só estou mais realistaNunca mais as ilusões gritaram contra mimApenas me pergunto “Quando vou ganhar flores e quando será o último tiro?” MAKTUB Olha, esse Maktub me bagunçou de um jeito…Não pediu licença e puxou o meu tapete (a queda foi feia)Já peço desculpa pela acidez na segunda-feira, mas não posso fazer muita coisa sobre issoApenas escrever, escrever para não gritar comigo, escrever para centrar a energia no que importaBom, tinha que acontecer, não posso negarPorém, o objetivo desse jogo não vingou o que sempre planejei e pensei Realmente, estava gravado nas estrelas, mas olha… me surpreendiMaktub clichê, que me desorientou e me fez crer que tudo ia dar certoHoje observo e interpreto a distância como ALÍVIOPra quê ficar se não quer, não é mesmo?Maktub, pois te vi no show, mas não era vocêMaktub, pois te vi no nome de escolas, farmácias e restaurantes, mas também não era vocêTe vejo em muitos lugares aindaMaktub, pois o frio que foi me dado se equilibrou com o cobertor mental que eu sempre tiveSuporteiConsegui mudarFaz 1 mês que passo 1 hora da noite deitado observando o céu e lendo as estrelasVocê, eu nem quero saber onde estáMaktub eterno CARAMBOLAS “VERANO” Pedaços de sol Doces e azedosTransbordando na baciaEu amo o teu sítioCarambolas “verano”Sempre caem bem em dias como essesCadeiras e mochilas no porta-malaVamos à praiaTua melanina conforta a minhaPele de prata preta brilhosaCarambolas “verano”Gosto de beijoEu repitoFala verão em espanhol de novoPor favorMe dá mais um beijo EU PRAIA Minha pele com pelos é a areia de uma praia desertaQuente e que esfoliaMinha boca tem gosto de marMeus dentes brancos são conchas rarasAs curvas são dunas para você escalarNão tente encontrar algum “x” por aquiO único tesouro que eu posso te dar é a brisa da minha voz ao teu ouvido UMA TAÇA DE VINHO ROSÉ Domingo cativanteCerejeiras no quintalPerfume de bambu por toda a casaCortinas brancas dançam com o vento, bela valsaPiso de madeira clara e caraEscada confortável que te leva ao meu escritórioMe olhas de um jeito espirituosoColocas “Valerie” da Amy, porque sabe que é a minha favoritaPegas uma taça de um vinho roséE fazes do meu dia, um dia frutado. Felipe Gabriel – Marfê (22 anos): Felipe Gabriel, estudante de administração da UFMA, busca intensamente enxergar a vida por uma ótica mais poética possível para aliviar-se do cotidiano caótico de um jovem adulto preto nordestino a partir de seu pseudônimo Marfê. Poeta que aborda várias situações com a sua singularidade artística, tem muito a agradecer ao teatro, sua primeira casa da criatividade, em que dos 13 aos 15 anos viu suas habilidades se expandirem até receber o prêmio de melhor ator em um festival cultural. Marfê nasce a partir de sentimentos reprimidos e da revolta pelas injustiças que fazem do mundo, um lugar mais pesado, manifestando-se juntamente com a fúria e a beleza do mar. A MaranhãoPoesiaSão Luiz
Marfê é maravilhoso em cada palavra. A sensibilidade na escrita, a realidade cotidiana de muitos, as experiências que ensinaram a amadurecer… Sou encantada por casa poema. Mais que merecido o reconhecimento e esse espaço aqui. Responder
Que lindo ler esse comentário, é muito importante para mim o seu apoio e carinho, minha amiga Laíse!!! Responder