A orquestra dos inocentes condenados | Livro de Milena Martins Moura Revista Kuruma'tá, 23 de novembro de 202123 de novembro de 2021 Resenha de Toinho Castro, citando poemas lindos do livro da Milena caros amigosvenho informarque hoje apareceramjúpiter e saturnopróximos no céu. As mais de 600 mil morte, só no Brasil, até onde se sabe e até agora, são uma mancha de violência tão enorme na nossa história, que é difícil falar das coisas boas que, de um jeito ou de outro, vieram a nós durante essa pandemia. Mas é preciso que se fale delas também, não para justificar esse desastre como um espaço de aprendizado, até porque, o que se aprendeu a gente já deveria saber há muito tempo. Mas sem dúvida há coisas que nos ajudam a manter a cabeça fora d’água. Essa água tumultuosa, invasiva, reativa e escura. No meio disso, há pontos luminosos, e cada um de nós poderá citar seus pequenos faróis na guia para atravessar esses tempos. Um desses faróis, sem dúvida, é a poesia. E muita poesia se fez nesses dias duros. venha rápido pois tenho pressatenho uma pedraentão entendao mergulho nessa água escuraé um riscoque eu só vou aprender a viverdepois do saltoum risco é o que se corree eu tenho pressameus braços são tão fracose eu tenho pressamesu olohs tmê falhaode eu tenho me evitadono reflexo do poçoeu tenho pressada palavra pesando meu corpode levantar os olhos e vere vercada silêncio é uma imagem a menosentão venha rápidoantes da próxima maréque nessas águas repousa a coisa mortaque se perdeu de mim durante a última música A Kuruma’tá, como uma casa de poesia, fica atenta a isso e acompanha essa claridade súbita que se faz quando a gente menos espera. E com isso que a gente se alegra, com esses livros corajosos que se insurgem contra a morte e contra a perda da sensibilidade. A orquestra dos inocentes condenados (Editora Primata, 2021), de Milena Martins Moura, é um desses lampejos. Escrever como maneira de manter-se sã durante tempos atípicos e assustadores. Totalmente escrito e publicado em meio à devastidão que espalhou pelo mundo, pelo Brasil, A orquestra do inocentes condenados é um livro de ordem íntima, que você lê e sente ele vindo de dentro. De dentro da poeta, e de dentro da gente. Memórias e aparentes miudezas. Coisas que, na verdade, crescem gigantes na alma. Universos suburbanos que parecem mínimos, mas são mínimos como um aleph, que a tudo comporta. Ler o livro é descobrir-se e enfrentar-se, na tentativa, tantas vezes vã, de alcançar sentidos, razões, caminhos para essa coisa chamada vida. Ao mesmo tempo, suas páginas são traspassadas pela morte, pela brevidade de tantas coisas, de tanta gente, que de uma hora pra outra se torna inalcançável, ausente. O passado se torna inalcançável e só podemos revirá-lo com a poesia. Essa lente, às vezes meio difusa, que investiga essas frestas que se abrem e que vão sendo preenchidas pela latência do possível. Ali está Milena, nas suas próprias páginas e palavras. poderia ser eu com essa dor e esse olhar. Poderia ser você com essa hipermetropia, esses cadarços por atar. A poeta é líquido revelador derramando sobre o papel fotográfico… e o que vemos na foto que surge é a sucessão das coisas perdidas, algumas reencontradas, tão deslocadas que parecem outras. E a cada luz e sombra, a cada nuance que vai se revelando, esperamos ver o que ainda não há. O futuro improvável, ilegível. Ler Milena é ver essas fotografias se revelando a cada virada de página do álbum. É escutar sua música insinuada a cada verso, cadente. Leia. Cante… perdoe se me repitomas acho importante reiterarque o sol é só mais uma estrelasobre a qual, esclareça-senão pesam peculiaridadesuma média amarelanuma esquina esquecidado roléperdoe-me tambémse devo repetirque ser humanoé resvalar no abjeto.é suar, sujar e cuspirlimpar do corpo as secreçõesque nos disseram imprópriasporque não foram retratadasnos quadros de santosporque deus não manchacom nódoas de suora sua toganem se narram deleas excrecênciasmas assim se convencionoufalar dos bichostenta-se, como ato redentor,escapar ao humanoque não é senão bichocom suore salivae gozoe choroimageme semelhançados que preferemsentir a terracom os peitos Ler poesia é sempre melhor que falar ou ler sobre poesia! Poesia para manter-se vivo. Mais ainda, para viver. Para caminhar entre os seus e entre os demais. Para abrir os braços no meio do corredor e se sustentar nas paredes porque talvez as pernas fraquejem. É o que sustenta. Esse versos, escritos por Milena, arrebatam a gente e também desafiam a remexer nessas gavetas mal fechadas da vida. Que dali se tira o que viver e o que esperançar. Apesar. Compre A orquestra dos inocentes condenados aqui! Milena Martins Moura nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1986. Passou a infância no bairro de Madureira e a adolescência no bairro da Pavuna, morando hoje no bairro do Cachambi. Seu Rio de Janeiro não está nas letras de Bossa Nova. Tem ônibus lotado, vendedor de bala no trem, sapato pendurado no fio elétrico, padeiro de bicicleta vendendo o pão de porta em porta e a recorrente menção à Telefunken 1984 sem controle remoto da infância. Em 2011, lançou seu primeiro livro de contos, Promessa Vazia, que mistura literatura fantástica com relatos intimistas e psicológicos. Seu livro de poemas Os Oráculos dos meus Óculos foi lançado em 2014 num evento com participação da banda Tormentorum, da qual a poeta foi vocalista entre 2013 e 2016. Os Oráculos são sua carta de despedida para seu avô Daniel, falecido em 2010 após um longo e doloroso processo de morte que se tornou temática constante em sua obra. Lançou também o plaquette de poesia Banquete dos Séculos, em 2021, de maneira independente como e-book. O Banquete é uma introdução a seu projeto independente de contos, a série Violenta, prevista para 2022. Como escritora, foi publicada em inúmeros portais e revistas, como Cronópios, Subversa, Torquato, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Desvario, toró, Arara, Kuruma’tá, Aboio, Arribação, Totem Pagu, Granuja (México) e Kametsa (Peru). Seus poemas também estão em podcasts como o Toma Aí Um Poema. Além disso, integra as equipes de colunistas da revista Tamarina Literária e de poetas do portal Fazia Poesia. A LeituraLiteraturaLivroPoesia
Linda resenha! Dá uma viagem pelo livro, com uma parada de inicio, e vontade de ver o que virá no tour inteiro. Sensível, como uma conversa sincera. Responder