Texto lindo, comovente, de Franklin Mello, sobrinho/filho do mestre Alfredinho Bip Bip. Para quem é de fora e por acaso não conheça a história de Alfredinho, saiba, entre tantas coisas e gestos de sua história, ele “comandou” com leveza o boteco mais afetivo desse meu Rio de Janeiro.
E para saber mais, siga o fio do querido Franklin nessa prosa boa!
Este é meu tio. Alfredo Jacinto Melo (erro do escrivão contra os dois L de toda a família), ou apenas, como preferia , Alfredinho Bip Bip. Mais que um tio, um pai. Segurou as pontas quando o verdadeiro progenitor sumiu. Irmão da minha mãe, cuidou para que os sobrinhos tivessem boa educação.
Cheguei a trabalhar com ele; primeiro no escritório de importação e exportação na rua Teófilo Otoni, centro do rio, onde , por uma razão que desconheço, era chamado de Peniche.
Depois, no Bip seminal.
Éramos poucos, Alfredinho, Cristina Buarque e eu, que fiquei responsável, com a ajuda dela, pelo balcão e por lavar os copos. O boteco não tinha petiscos. Só bebida. Nordestinas batidas vindas de Bangu, uísque vodka água e Cerpinha, uma cerveja longneck paraense. Se lembrar de mais, registro.
O banheiro do boteco era reverenciado como o mais limpo da Zona Sul. Era verdade, limpíssimo. E unissex.
Alfredo era católico e comunista . Eu discordo um pouco. Ele era socialista. Tinha um sonho de que no Brasil todos teriam, no mínimo, quatro refeições por dia. Além de educação adequada.
Apoiou quem apostava nesta ideia, neste projeto. Brizola, Darcy Ribeiro. E Lula e o PT. Viveu sua breve vida fiel à ideia de que todos tem direitos básicos.
Seus aniversários eram muito comemorados. Todos podiam participar , desde que trouxessem um quilo de alimentos não perecíveis. Que depois seriam distibuídos às entidades.
Sou testemunha ocular da história: vi montanhas de doações; montanhas.
Depois ele começou a coletar gorjetas em dinheiro no próprio bar (continua até hoje. Participem!). Depositadas numa caixa, vão sendo acumuladas, para financiar, no Natal, um almoço caprichado para os que nada tem . Os amigos ajudam, os restaurantes ajudam, na preparação. Todos ajudam. E num momento em que a alegria invade alguns, a tristeza toma os corações de centenas. O almoço de Natal conforta e aquece esses corações.
Este foi meu tio.
Um real não pesa na sua carteira, mas faz uma diferença na vida de tantos. Este é o meu projeto. Um real para manter as pessoas alimentadas. Estou esperando o projeto do Betinho – para fazer a proposta aqui. Apenas um real (ou doações em alimento) e vamos acabar com a fome no Brasil.
PS. O bip bip está em atividade e continua com os projetos sociais. Procurem o Matias Bidart. Ele é nosso braço forte . Obrigado.