A poesia de Fabiano Silmes Revista Kuruma'tá, 29 de agosto de 202231 de agosto de 2022 Fabiano Silmes, poeta de São Gonçalo, entusiasta do underground e da literatura marginal, chegando na Kuruma’tá e fazendo valer o nosso inbox mágico com a qualidade pungente de sua poesia. Seja bem-vindo, Fabiano! UM POEMA PARA JACK deitado numa velha rodoviária tremendo de frio sob o céu cravejado de estrelas (ursa maior cruzeiro do sul…) perdi o ônibus perdi as moedas pro cigarroperdi o rumo de casa perdi até o sono perdi quase tudo nessa vida mas nem tudo está perdido eu ainda estou aqui, firme esperando outro ônibus que me levará em segurançapara algum lugar calmodepois das montanhas perto do sol, na luz da manhã. FLUX o sol faz verquem olha o solnão vê nadacom lente escuradá paraolhar e verescurecer o olhodentro do olhoe o sol brilharescuro o cu éumapalavrapequena e aomesmo tempopalavrãoa cigarra nãofuma cigarroo cigarro fumapulmãoa mente sabeo que sentimosela faz a gentesentir o quesentimos quandosentimos o queela quer mastodo mundo dizque o culpado éo coraçãoque é ummúsculoque bate no peitodizendoque não éo culpado não. ESFINGES MIDIÁTICAS aceite inerte pálidos agrados áridos falidos movimentos em postos nus nos arredores do nada e não reclame pelo enxame de promessas não cumpridas mastigue-as apenas e continue sorrindo para a TV. SEGUNDO PLANO tiros y bombas y sangue y lágrimas a mídia que filmava editou a imagem como que corta uma cebola e chora sem sentimento algum o alvoroço das reivindicações do povo acuado diante das lentes a tv filmou mas não registrou cortou e mostrou outra cena o grande milagre da televisão brasileiraé a possibilidade de colocar a verdade sempre em segundo plano. POEMA PARA NÓS DOIS curioso é colocar voz nos versosbastante silêncio nas palavrasconsertar os erros que sequersabíamos erros quando errávamospor aí, incautos, mundo à foradeserto aqui dentro – sempre- umpensamento me consola enquantooutro me consome lentamentecomo um cigarro aceso ao acasodos instantes entre a pressa cega deseguir e dessa vontade louca deficar olhando você dormindo, rindoquem sabe sonhando comigo indote encontrar nos teus sonhos. Fabiano Silmes nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Publicou Comida para Bicho-cabeça em 2011, editora Multifoco. Entusiasta do underground e da literatura marginal, costuma postar poemas e crônicas em sua página no Facebook e também em blogs e revistas literárias. A PoesiaSão Gonçalo