Primeiro capítulo, inédito, de uma ficção científica muito pouco pudica!

Para essa gente maior de idade, com muito amor envolvido


A Kuruma’tá tem a alegria e o prazer (Ah, esses dois, quando estão juntos…) de publicar o primeiro capítulo, inédito, da novela de ficção científica Patópolis, que o jornalista e cineasta Eduardo Souza Lima, o Zé José, começou a escrever nos anos 1990, quando nem existia coisas como Matrix e quejandos. Tivesse vindo à luz na época, anteciparia conceitos e tendências que se popularizaram na FC anos depois. Mas a época é agora, nesse impensável século seguinte, e a gente pode agora adentrar o universo de Patópolis!


PATÓPOLIS

por Eduardo Souza Lima

Episódio 1:
“Moisés supunha que seus dedos eram rosas” (Betty Comden e Adolph Green)

Good morning, good mo-or-ning! Seis da manhã, o Despertador Donen toca. Moisés tateia a cômoda, pega a pistola incorporada ao aparelho e aponta… Good morning, good morning toBang! O holograma de Cosmo Brown cai para trás com um rombo no meio da testa enquanto os de Kathy Selden e Don Lockwood dão no pé. Até que esses 200 narizes de formiga foram bem gastos, pensa ele, satisfeito com o novo brinquedo. Ainda sonolento, arrasta-se até o computador e liga a caixa de correio: na tela, Martina está nua, com as mãos na parede, a bunda empinada, aquela penugem subindo pelo rego, um rabo de esquilo. Estou te esperando…, sussurra.

Moisés desperta como se tivessem injetado adrenalina no seu coração e manda uma sonda ao ciberespaço, para contatá-la. Tinha sonhado novamente com Martina; o tema era o recorrente: ela o procura fora do horário combinado, o que nunca havia acontecido até então, para convidá-lo a parar o tempo. A ligação dos meus sonhos? Moisés sentiu uma breve desconfiança, logo obliterada pelo habitual tesão incontrolável – tinha esse fraco, outra expressão a que ela dava forma. O combinado era que seus encontros sempre durariam uma hora e começariam pontualmente às 15:06h. Ele jamais poderia procurá-la: Martina o faria e Moisés lançaria uma sonda para receber as coordenadas do local do encontro. Certas perguntas eram proibidas. Ele também tinha seus segredos; então, o pacto lhe era conveniente – e as surpresas, bem-vindas.

Enquanto pensava nela, a sonda voltou sem nenhuma mensagem. Desapontado, começou a trabalhar.

SODOMA E GOMORRA (Sodom and Gomorrah/Japão, 2012)
Direção: James Cameron.
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Ava Gardner, Linda Hamilton, Charlton Heston, Jane Russell, Michael Biehn, George Burns, Rossana Podestà.
Épico. Deus iracundo (Burns) decide riscar do mapa duas alegres cidades. Somente o destemido Lot (Schwarzenegger) pode detê-lo. Rodado em Avatar System, a mais cara produção de todos os tempos (2 bilhões de narizes de formigas) e um retumbante fracasso de bilheteria que levou Cameron a cometer “Titanic – Além da vida”. 184 minutos.

O bico de resenhista da BlockBusterMax pagava as contas e lhe garantia anonimato necessário. Além disso, atendia ao seu principal requisito: Moisés podia se dar ao luxo de fazer uma pausa todas as tardes para se dedicar exclusivamente às vontades de Martina. Porém, deu a 15:06h e ela não ligou. Foi a primeira vez que aconteceu desde que se conheceram. Moisés ainda lançou uma nova sonda, mas novamente não obteve resposta.

Ele acreditava ter limpado todos os rastos de sua vida pregressa. Entretanto, mesmo que tenha tomado as precauções possíveis, Moisés conhecia o Lebréu como ninguém. E sabia que era praticamente impossível escapar do que foi concebido para ser implacável e inabalável. Teve certeza de que correria qualquer risco por ela antes mesmo do primeiro encontro; mas não custava redobrar cuidados – até para protegê-la, pois o procurado era ele.

Martina: seu nome começava arranhando a garganta e terminava num suspiro. Definia impecavelmente aquele apetite imensurável. Não era um programa, um boto ou um vírus-taxista, disso Moisés tinha certeza. Ele analisou cada nickname compatível ou ajustável em todos os bancos de dados que conhecia, e não encontrou nada parecido com ela – tanto em aparência como em personalidade e habilidades incomparáveis. Martina era a virtual materialização de seus sonhos; e os sonhos, ele acreditava, ainda eram indevassáveis.

Pegou no sono e a reencontrou em suas lembranças permanentes. Vem contar minhas pintinhas… ronronava ela, vestindo só a marca do biquíni, acariciando a os pelinhos abaixo do umbigo.