Independência Poética: Carla Brito Revista Kuruma'tá, 13 de dezembro de 202213 de dezembro de 2022 Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA Poeta de hoje: CARLA BRITO Carla Brito é poeta e escritora de Salvador, graduada no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (UFBA) e cursa o último semestre de Psicologia (UFBA). Premiada pela Lei Aldir Blanc e autora dos livros “Taunina: entre escrevivências e poesias” (2021) e “sinto” (2022). Carla Brito O que te inspirou a começar a escrever? Eu escrevo há muitos anos, não sei exatamente quando comecei, mas me recordo que a adolescência foi um período em que escrevia sobre meus sentimentos e vivências. Talvez por volta dos 14 anos eu tenha começado a escrever mais intensamente sem ser para atividades da escola. Eu tenho diferentes inspirações a depender do que eu for escrever. Não há uma única fonte de inspiração, ela varia com o conteúdo que estou escrevendo. O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias? Hoje eu não acredito mais em bloqueio criativo. Penso que como somos seres cíclicos, há momentos em que estamos mais proativos para algo e em outros mais reservados. O mesmo acontece com a arte. Eu como escritora e universitária estou sempre escrevendo, textos que nunca vou compartilhar ou textos que serão para meu Instagram @soucarlabrito ou para avaliação da faculdade. Mas eu sempre estou escrevendo. Há momentos em que essa escrita se torna menos intensa e respeito, mas não vejo mais como um bloqueio, porque minha escrita não tem estado mais retida. A escrita é prática, é movimento, não se bloqueia o vento, ele muda de direção e intensidade. Seu maior sonho como escritor(a)? Deitar a cabeça no travesseiro de noite com a mente tranquila e o coração leve e pensar: “tá dando certo, garota!”. Assunto preferido de escrever? Eu escrevo sobre muitas temáticas, o que me toca, eu escrevo. Mas acredito que escrever sobre ser mulher negra e afetividade é um dos assuntos que mais me ocorre e mais que eu gosto de escrever. Um elogio para sua própria escrita? Navalha na carne viva. Escrevo pra doer, mas também pra curar. Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos? Tenho 2 livros publicados: “Taunina: entre escrevivências e poesias” (2021) e “sinto” (2022). Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita? A natureza e as pessoas. Qual dos seus poemas mais te define? “Tornar-se negra”, ele toca em pontos de diferentes fases da minha vida envolvendo a minha relação com a negritude. Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você? Mais fácil é o ato de escrever, nunca tive grandes dificuldades, as letras sempre fluíram muito bem comigo. No entanto, quando são para colocá-las no mundo e compartilhar com outras pessoas, torna-se mais difícil. Hoje em dia, eu já melhorei muito nesse aspecto, mas sempre tento ter responsabilidade e cuidado com o que eu posto. Não ter controle sobre o que o outro interpreta, me amedronta um pouco. Qual sua obra favorita de outro autor(a)? “Olhos D’água” (2014), de Conceição Evaristo. Um livro de Carla Brito Nome da obra? “sinto” (2022). Quando e em qual editora foi publicada? “sinto” é uma obra independente. Sua primeira versão é digital, publicada pela Amazon, em abril. Depois de frequentar espaços presenciais e sentir falta de apresentar meu livro fisicamente, decidi fazê-lo de forma artesanal. Então, em junho, foi quando a versão física de “sinto” chegou nas primeiras mãos. Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual? Sim, sobre afetividade e relacionamento amoroso. As poesias são divididas em fases nessa obra? Se sim, o que te motivou a fazer isso? Não são divididas, elas fluem no decorrer das páginas conforme meu próprio processo no contexto narrado. O que te incentivou a escrever esse livro? O principal incentivo foi um relacionamento amoroso. Depois de conversas com amigos, notei que muitos passavam ou tinham passado por algo semelhante, então percebi que era uma ótima oportunidade para escrever um novo livro, aplicando também os conhecimentos técnicos que havia aprendido recentemente. É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano? Acredito que o poema “sinto dezenove vezes”, pois nele eu vou construindo aspectos do ambiente externo ao meu. Sou muito de observar as coisas corriqueiras da vida, como o céu, pra poder escrever. A sequência dos poemas conta alguma história? Sim, os poemas começam com o sentir voltado para o outro e termina com o sentir para mim mesma. Existe algum posicionamento político ou cultural na obra? Não diretamente, mas o fato de trazer um relacionamento afrocentrado já é político. Qual a relevância dos personagens implícitos/explícitos da obra? A relevância é que são personagens vivos e reais, pessoas que falham, sentem e se recuperam. Qual a poesia mais marcante desse livro? Pelas devolutivas dos leitores, varia entre alguns poemas. Eu, particularmente, não consigo dizer qual o poema mais marcante. A