Texto de Toinho Castro
A moça, ao lado de sua amiga, ergueu o braço e apontou para algo no céu. Um gesto trivial, que tantos de nós fazemos no nosso cotidiano, para mostrar a alguém uma nuvem, um avião, a lua contra o azul do céu de fim de tarde. Sempre fazemos esse gesto para alguém, sempre para conduzir o olhar de alguém a algo que nos surpreende, nos encanta ou assusta.
Queremos compartilhar. Queremos que o outro veja e se assombre, como nós. Muitas vezes nosso parceiro nessas aventuras também estende o braço e aponta numa interjeição, num susto: Olha lá É mesmo! Aquilo? Aquele? Nossa, que lindo! Que terrível! Vamos fugir!
Esse gesto é tão mais importante que a coisa vista que foi nele que deteve-se nossa fotógrafa viajante do tempo. Um balão Um pássaro enorme? O riso no rosto das duas mulheres não denuncia o objeto do encanto, da fugaz felicidade que se estampa. Apontava para longe dali, para longe da cidade, para além dos prédios e da fiação. Vê-se que o que quer que seja está longe demais. Estão sorrindo, talvez, do impossível que de repente fez-se visto.
Talvez dali tenham resolvido mudar suas vidas. Nada sabemos, se eram amigas da fotógrafa ou se ela simplesmente as viu ao acaso. Não sabemos se há por aí uma foto do que quer que estivesse no céu naquele dia. Como creio que ela vem de um futuro ainda distante, mesmo para nós, pode ser que um dia essa foto chegue até ela, que então contará sua história.
Enquanto isso especulamos. Sobre tudo!
Pego a foto e penso na nossa viajante, vagando pelos antiquários e feiras de velharias em busca desse pedaço de papel que seguro nas mãos. Será então ainda mais antigo do que é agora. Como sei de tudo isso? Na verdade é que eu não sei….
Foto de autor desconhecido, adquirida numa barraca da feira de antiguidades da Praça XV, no Rio de Janeiro.
[Leia Uma fotografia #01]