Objetos transnetunianos podem ser vistos a corações nus Revista Kuruma'tá, 18 de novembro de 201930 de dezembro de 2019 Texto de Eduardo Frota Eram dois planetas que orbitavam a mesma estrela, chamada MU-Zk – uma gigante amarela que, apesar de incandescente, era admiravelmente bela. E-41 e B-38 tinham as atmosferas bem parecidas, mas algumas características acentuadamente distintas. A gravidade era uma delas. No planeta E-41 ela era tão imperceptível, que seus habitantes quase flutuavam, mais parecendo balões de hélio. Meio de transporte preferencial? Dirigível. Em B-38 não era que as pessoas não flutuassem, mas permaneciam mais tempo em contato com o solo. Meio de transporte? Helicóptero. B-38 era um planeta em que fazia mais frio. Uma das indústrias que mais florescia por lá era a de edredons e cobertores, bem como a de chocolate quente e aquecedores. Em E-41 o calor era praticamente sentido a todo o instante, o que irritava, a longo prazo, todos os seus habitantes. A gastronomia era o ponto alto de B-38. Os melhores restaurantes daquele sistema estelar, quiçá daquela galáxia (não podemos ter certeza porque não há estudos que apontem outros planetas habitáveis naquelas regiões longínquas), estavam lá. E-41 tinha mais livrarias, muitas delas, com estantes abarrotadas de livros de poesia. Quando acontecia o momento no qual as órbitas dos dois planetas se encontravam, vencendo a distância, o sistema todo entrava em festa. Ali, as características de cada um não eram mais diferenças, eram apenas arestas, que eram aparadas a cada translação. Tudo fazia sentido e, assim, ocorria naturalmente a lei da atração. Havia tanto movimento que a estrela, lá no meio, brilhava. Cada vez mais forte, feito ouro. Era possível ver no céu de um o brilho do outro. E quando se distanciavam novamente, os habitantes de B-38 deixavam marcas lindas e indeléveis nos habitantes de E-41 – e vice-versa. Nos observatórios, calculavam os especialistas que era matematicamente provável a possibilidade dos núcleos dos dois planetas, numa dança cósmica que poderia ser vista com o auxílio de lunetas, se fundirem. Quanto tempo isso iria levar? Os astrônomos ainda não sabem dizer. Foto: Maria Mitchell (second from left) and her students measure the Sun’s rotation from the movement of sunspots.Credit: ID 08.09.05, Archives & Special Coll., Vassar College Lib.Link > https://www.nature.com/articles/d41586-018-05458-6 A ContoEduardo FrotaLeituraLiteraturaProsa poéticaRio de Janeiro