Hoje na Revista Kuruma’tá a primeira colaboração em texto de um cidadão de Camocim, Ceará, conterrâneo do querido livreiro Francisco Olivar, cujo belo trabalho de popularização do livro e da leitura já foi tratado aqui nas nossas páginas. Carlos Augusto é parceiro de conversas nos encontros da Carioca e agora também navegador da Kuruma’tá! Seja bem-vindo!
Texto de Carlos Augusto Pereira dos Santos
Escutar uma cidade é também sentir sua história. Deste modo os sons configuram o que os historiadores estão chamando de “paisagem sonora”. Do meu posto de observação, apuro as oiças e o que me chega é uma algaravia que remete tanto aos sons de outrora, quanto às emissões sonoras da modernidade.
Dito isto, acordo com a batida seca da madeira no caixão do tapioqueiro que passa de manhãzinha. Se me dispuser a ficar na calçada da minha rua, o vendedor de peixe, de camarão, passarão de bicicleta anunciando e vendendo os produtos do mar com seus bordões característicos.
O barulho e o tráfego de veículos automotores denuncia o aumento da frota. Ouvir o ronco do mar agora, só na madrugada. Aqui e acolá um carro de som ultrapassa os decibéis permitidos propagandeando alguma loja. Tento me concentrar na leitura de um livro.
No entanto, existe algo de novo no ar, infestando o éter, disseminando-se nas redes sociais – os famosos áudios que atualizam os bastidores da politicagem local. Os caudatários dos pretensos líderes sedentos de poder se esforçam para passar verdades cada vez mais evanescentes. Os sons raivosos, debochados e caluniadores já possuem audiência cativa, não somente na virtualidade dos grupos de whatsapp, como também nas rodas de conversa de ponta de esquina. São os aparatos tecnológicos modernizantes a serviço dos interesses da nossa política senescente.
A tarde cai. Em meio ao burburinho vespertino, distingo o badalar hierático do sino da Matriz. Alguém ainda se toca com seu toque como algum chamado para um ritual sagrado? O importante é que ele ainda dobra…