Texto de Toinho Castro
Não entendo muito de quadrinhos. Não é minha praia, como se diz. Mas meu amigo Francisco sabe tudo. É bom escutá-lo falar sobre quadrinhos; os estilos, variações, possibilidades, os milhares de links e inspirações das histórias, dos autores, de todas essas páginas já produzidas. O mainstream, o alternativo, o sub, o experimental… Quadrinhos é um mundo. Francisco é uma janela para esse mundo, que eu não exploro muito porque não dá para dar conta de tudo que a gente pode amar. Música, cinema, livros, artes… e no meio disso tudo tentar encaixar novas descobertas. Mas volta e meia, da janela que Francisco é, eu dou uma espiada nesse outro mundo. E muito me animo, porque ele só dá dica certeira. E foi assim que li Bravos, que tem roteiro (como num filme) e arte do brasileiro Victor Moura.
Faço questão de escrever brasileiro ao mencionar Victor, porque a gente consome muita coisa de fora e tem maravilhas sendo feitas por aqui. e muitas vezes sendo esnobadas pela brasileirada que proclama adorar quadrinhos. Pois Bravos é quadrinho brasileiro e de primeira linha. Tem três episódios lançados e disponíveis na loja da Mamakoosa, responsável pela edição e que está fazendo um trabalho bonito em colocar quadrinho nacional na vitrine pra valer. O nome disso é coragem, o resto é bobagem. O que tá nascendo ali vai florescer bonito e convido vocês a participar, comprando as HQs e lendo e espalhando a boa nova.
Sobre Bravos, puro encanto. Num cenário que remete à Idade Média, feito de florestas, estalagens, lagos, castelos, Bravos nos convida à aventura. Então assim, não falo como nerd de quadrinhos mas como leitor, como gente que gosta de descobrir novas narrativas e que está começando a encontrar nas páginas das HQs o sabor de uma outra possibilidade poética. Bravos é de uma leveza poética que surpreende e que não deixa cair o fio da meada em bobagens e clichês. É uma narrativa enxuta, cheia de fina ironia e traz esse tema que, ou a gente enfrenta ou a gente se perde… a luta contra o que nos oprime, o que ameaça nossa floresta, o nosso encanto do mundo e mesmo, nosso lugar na comunidade. É poético, leve e ao mesmo tempo uma porrada bem dada, dessas pra nos acordar do torpor do cotidiano, das contas, do chefe demente, do governo que nos insulta.
Os protagonistas dessa fantasia enraizada de mundo real, são Lourenço e Albuquerque, um sapo e uma raposa, vagando rumo a uma missão impossível, iluminados pela presença de Rosa, uma misteriosa heroína que parece saber mais do que eles dos labirintos escuros do reino. E os três guiarão uns aos outros rumo à aventura por vir, que se desenha desde as primeiras páginas. E as páginas passam céleres, ágeis, num modelo super legal em que cada publicação é um capítulo! Bom demais de ler e deixar essa dica aqui é essencial, porque é um ponto de partida incrível pra você enveredar no trabalho dos artistas nacionais dos quadrinhos e na produção da Mamakoosa, que botou a mão na massa pra trazer energia das melhores nessa pandemia doida que nos engoliu.
Leia Bravos e conheça os outros títulos da Mamakoosa… os grincos já ganham grana demais.