Texto de Eduardo Frota
Há quem diga que foi um truque malogrado. Outros, que foi tudo, do gesto inicial ao resultado, premeditado. Quem vai poder contar o que realmente se passava pela cabeça do mágico? Recusou fazer o número principal, aquele que arrancava um suspiro exasperado do respeitável público que se amontoava na praça: o desaparecimento a olhos nus. Havia o artista da ilusão perdido a graça?
Pediu a sua bela ajudante que trocasse de lugar com ele. Entraria na pequena câmara que, posteriormente, seria fatiada em dois pedaços bem ali na linha da cintura. A moça retrucou, gritou: loucura, isso é loucura! Mas nada do que ela falasse demovia a ideia de que o número de encerramento seria assim, daquele jeito. E assim foi feito.
Sob olhares atônitos, o mágico retirou da cabeça a cartola, arrumou o paletó num gesto meio angustiante, apontou o serrote prateado para a ajudante e deitou-se na posição que era esperada. Mais tarde naquela noite, depois do ocorrido, a bela moça confessou que viu uma lágrima escorrer feito a jusante de um rio – daqueles inomináveis.
Há quem diga que ele não suportava mais segurar a vontade de usar as pernas para percorrer um caminho.
Há quem diga que, na verdade, fez da arte a vida porque se sentia assim mesmo, dividido.
Saiu de cena de duas formas que não esperava. A saber, aplaudido. A valer, aturdido.