A cruz e a Encruzilhada Revista Kuruma'tá, 11 de outubro de 202221 de outubro de 2022 Texto de Ana Egito A primeira vez que dobrei os joelhos, não carregava pecados, eram pequeninos os meus olhos, minhas mãos, cabiam como pérolas em concha, enquanto outra mão fazia o sinal da cruz. Ajoelhei-me seguidamente enquanto crescia, entregando a Deus meus pedidos e promessas com a ingenuidade dos que não sabem o que é pecar. Os calos, sinal dos tempos, deixaram minha pele seca tanto quanto meus olhos, parecia ser o amor coisa insana, de doer na carne, véu que não se pusesse, desonra e castigo, o prazer, momento de elevar a alma, se tal casta, tudo de não se encaixar, de não se entender, “é mesmo louca… aos ouvidos se falava a deixar-me emudecer. De pé, tudo parecia longe, cansaço constante só de pensar, mas, à margem de um sinuoso caminho, entre barro, mata e espinhos, também nasce flor, planta que guarda água, sombra que resguarda, sol que surge depois de tanta escuridão, e a luz se faz, e o corpo se refaz, hora de recomeçar. De nada faço pena, não crio mágoa pra não ter que voltar no tempo levando desavenças perdidas, coisa mesquinha vira migalha, joelhos dobrados, e isso, não mais. Se faltar força pelos idos de tanto correr, deixo pegadas para que me alcancem, novos andantes, todos muito falantes, estes, aprenderão comigo a não se dobrar . Cantora e compositora, Ana Egito é uma artista com trajetória internacional. Aclamada por crítica e público por sua performance e voz afinada seu primeiro contato com a música veio através dos Festivais da Canção e sua carreira profissional teve início na década de 1980, tendo como padrinho e mentor o saudoso cantor e ator Ivon Cury. Ele a levou para se apresentar como caloura no programa de TV “Cassino do Chacrinha”. Naquele dia ela ganhou o prêmio e foi convidada para participar da “Caravana do Chacrinha”. A ContoCrônicaLeituraLiteraturaMemória