A Poesia de Nakamela na Kuruma’tá Revista Kuruma'tá, 5 de dezembro de 20225 de dezembro de 2022 Que alegria essa irmã angolana cruzando o Atlântico, para alcançar aqui a Kuruma’tá, em terras brasileiras, com sua poesia. Maria Chimbili, ou Nakamela, em sua identidade poética, é uma poeta/ escritora, nascida na cidade de Huambo, e que reside atualmente na África do Sul. Nossa revista chegou ao seu conhecimento e ela se aventurou, enviou sua mensagem e nós a recebemos comovidos. Que essa seja apenas a primeira ponte com o continente africano e sua diversidade. Bem-vinda à Kuruma’tá, Nakamela! (I)ACEITA.AÇÃO Entre idas e vindas subidas e descidas enquanto a vida acontecia encontrei à mim e me viVoltei a apaixonar-me por respirar e dessa pele que me acolhe aprendi a cuidarCom tudo o que envolve ser eu das falhas aos ganhos entre altos e baixos eu me escolhi. (II) Doação ( almas que dão ) Não é errada a forma como me doô O problema surge quando tento reconstruir pontes que por mim não tenham sido queimadasO problema está em fechar os olhos quando o mundo iluminado expõe as mil cores carregadas por cada uma dessas almasQuando abro os braços e convido outro coração a sincronizar com o meu que segue fraco machucado desde a última lesãoO problema é ter medo da solidão ao ponto de alavancar trocas com almas que tiram mais do que dão. (III) Frequências Quanta graça se aquelesque preenchem o coração preenchessemOs lugares à mesaQuanta graça se as frequênciasContinuassem ligadasE a morte Não InterrompesseNossas conversasQuanta graça. (IV) O que eu desejo É ser querida pelas pessoas que eu quero Quero ser acolhida Quero ser bem-vinda Ter a sensação de estar dentroMesmo estando de saída Quero ser procuradaRequeridaQuero que o esforço de criar amorSeja mútuo e co-criadoQuero que seja nosso, nossoE que sejamos uns dos outros Quero sentir no outro O calor que emana de mimCriar um mar quente Com lágrimas derramadas De olhos que choram de felicidade Quero ser mimada, abraçada, beijada. Quero ser amada, de verdade. (V) Ser kota cansa Não é sobre querer, é sobre ser Sobre a consciência transparenteDo nosso papel nesse roteiro. É pesado, exige coragemCoragem, sê leve contigo Aprende a falar de amor em voz alta Ser kota cansaEs muito jovem para ir depressa E velho demais para perder tempoO tempo passa, o people baza Nos tornamos kotas e os kotas tambémConfrontados com dores invisíveisE decisões difíceis Dor no coração é quase normalTal como as marcas deixadas pelas lágrimas em nossos rostosSer kota cansaSomos acordados pela ansiedadeQuando a depressão nos põe na cama Mil caminhos, mil realidades, mil sonhos Não temos para onde fugirO último a sair apaga a luz Com o coração pesadomedo do passadoÉ um futuro incertoProblemas têm o peso da idadeE o tamanho da cidade A verdade é agonianteNão era esse o nosso sonho Não foi esse o nosso desejo Lutamos as nossas batalhas Lutamos batalhas alheias Arenas externas e conflitos internos“ Possas, tipo que vou pro inferno “Ser kota cansaÉ sobre o brada que faz o que podemas nesse caminho ele só f*deMas como é que olha para os olhos da mãe Que chegou à casa a sangrar depois de um dia De luta com aqueles que lhe tiram o pão Para poderem ter pão Ser kota cansa É sobre o medo de ter filhosMedo de não ter filhos Medo de errar a trilha Medo Ser kota é fingir ter uma força Que não se tem Ser kota é enganar o coração E a menteenganar o mundo e as vezes enganar a nossa gente É fingir que está tudo bemPorque é nisso que precisamos de acreditar Até que fique tudo bemAqui dentro pelo menos Porque chove lá fora E o sol se apagou Deixa a lágrima cair Respira e avança Eu sei… ser kota cansa. GLOSSÁRIOKota – adultoBrada – irmão A poeta e escritora angolana Maria Chimbili, conhecida como Nakamela, nasceu no Huambo em 1994. Formada em ciências sociais, a escritora analisa a “cura” como mudança social, pois acredita que o autoconhecimento seja uma das formas de alcançá-la, impulsionando o desenvolvimento pessoal e profissional de cada cidadão. “Gosto de acreditar que a minha escrita funciona como uma maquina do tempo que leva as pessoas para o passado e para o futuro, aquecendo sentimentos que se encontravam frios e acendendo luzes em quartos esquecidos. Desejo escrever livros que sirvam como arma contra sentimentos que matam.” A ÁfricaAngolaLeituraPoesia
Amo ler-te . Os teus textos são analgésicos , são fonte de inspiração para o meu coração. Força e muita força. Responder