Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA
Poeta de hoje: Renata Ettinger
Renata Ettinger é baiana, de Itabuna, mas mora em Salvador. Poeta (e dizedora de versos), publicitária e arteterapeuta, encontrou na palavra um lugar de ser. Já publicou os livros A mesma vida é outra (2022), GRITO: silêncios ecoando em minha voz (2020), Oito Polegadas (2018), junto com mais três poetas, e Um eu in verso (2002), todos de forma independente. É autora e voz dos podcasts Quarentena com Poema – QCP (2020) e Trago Poemas.
O que te inspirou a começar a escrever?
Eu sempre fui muito tímida e sempre tive dificuldade de falar. Então, desde o começo, o recurso da escrita sempre foi importante pra mim. Era uma forma de expressão. Cheguei até a poesia através da aula de redação, ainda no colégio e percebi que esse era um recurso que funcionava. E eu segui escrevendo. Mas não houve um fato/ acontecimento específico que tivesse me levado para escrita.
O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias?
Já tive pavor de ficar sem escrever. Achava que nunca mais ia conseguir escrever. Mas tenho tido calma para lidar com os bloqueios hoje. Entendo que poesia leva tempo. O poema não acontece quando eu quero e, sim, quando ele tem que acontecer. E esse tempo, uso para viver, ler, sentir. Mas dá um medinho ainda. Rs.
Seu maior sonho como escritor(a)?
Não sei se é o maior sonho, mas acho que um sonho é ser traduzida. Que minha poesia ultrapasse fronteiras.
4 – Assunto preferido de escrever?
A minha escrita parte da auto-investigação, de olhar para a vida agora e ver o que ela está mostrando nesse instante e como isso me atravessa.
Um elogio para sua própria escrita?
Que ela tem ritmo.
Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos?
Publiquei 3 livros solo: Um eu in verso (2002), GRITO: silêncios ecoando em minha voz (2020) e A mesma vida é outra (2022). Também integrei a coletânea Oito Polegadas (2018), com mais 3 poetas.
Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita?
Tudo pode ser assunto pra poesia. Dos pés descamando, até o barulho de um portão de garagem se abrindo. Do medo do silêncio que acontece nos bloqueios de escrita, até a cigarra cantando no final da tarde. Tudo.
Qual dos seus poemas mais te define?
Essa pergunta tem respostas diferentes a cada tempo. Todo poema, antes de ser fora, é dentro. Atualmente um dos poemas que mais diz sobre mim é o “Ser quem se é”.
eu
sou
uma voz
que já não
tem medo
de ser
ouvida.
eu
sou
uma voz
sem medo.
eu
sou
uma voz.
eu
sou.
Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você?
O próximo poema é sempre o mais difícil. Mas escrever é a parte boa (isto não quer dizer fácil) do processo. Ah! Uma parte bastante difícil, principalmente para quem é autor independente, é vender a própria escrita. Isso faz parte do trabalho. É exaustivo, porém necessário. Ninguém vai vender seus livros por você.
Qual sua obra favorita de outro autor(a)?
Leio poesia diariamente, não consigo escolher uma obra de um autor só. Tenho um carinho especial por poesia brasileira, e posso citar Adélia Prado, Hilda Hilst, Drummond, Pessoa, Cecília, Gullar, João Cabral e muitos outros. Atualmente eu tenho me debruçado sobre a poesia contemporânea, principalmente escrita por mulheres. E peço: leiam poetas vivas!
Um livro de Renata Ettinger
Nome da obra?
A mesma vida é outra
Quando e em qual editora foi publicada?
2022. Publicação independente.
Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual?
O livro fala sobre transformações.
As poesias são divididas em fases nessa obra? Se sim, o que te motivou a fazer isso?
Não tem fases. O livro tem uma sequência. Contudo, cada poema tem começo, meio e fim. Ler em sequência traz um sentido, mas o leitor é soberano e pode fazer a sua própria ordem.
O que te incentivou a escrever esse livro?
Não teve um fato específico. Quando escrevi o poema que dá nome ao título do livro eu soube que tinha nesse título uma possibilidade. Depois de um tempo, fui investigar meus escritos e o livro estava lá.
É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano?
Geralmente, o ponto de partida dos meus poemas é o cotidiano. O poema “A mesma vida é outra”, que dá nome ao livro, parte de imagens reais (vestidos pendurados em cabides atrás da porta, livros empilhados sobre a mesa) e tem a pandemia como plano de fundo.
A sequência dos poemas conta alguma história?
A sequência traz um fio condutor, um movimento em espiral para a leitura. As transformações se apresentam à medida que o livro acontece.
Existe algum posicionamento político ou cultural na obra?
Uma mulher que tomou posse da sua própria voz, escrevendo poesia, publicando de forma independente, é política.
Qual a relevância dos personagens implícitos/explícitos da obra?
A capacidade do eu-lírico de nos levar para as nossas questões e nos fazer refletir sobre.
Qual a poesia mais marcante desse livro?
Não há como definir o poema mais marcante. A resposta para essa pergunta varia de acordo com quem lê. Em mim, de tempos em tempos, um poema ecoa mais forte. Nesse momento, o “terra-palavra” tem ecoado por aqui.