Independência Poética: Mariana Madelinn Revista Kuruma'tá, 10 de janeiro de 202310 de janeiro de 2023 Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA Poeta de hoje: Mariana Madelinn Poeta, escritora de ficção especulativa, baiana com orgulho e bacharel em Direito. Desde 2009 publica poesias na internet. A partir de 2018 começou a publicar de maneira independente na Amazon, tendo participações em antologias nas editoras Corvus, Maria Bonita e Cultura. O que te inspirou a começar a escrever? A minha escrita surge da necessidade de romper com o silenciamento tão comum à meninas negras. Começo a rascunhar minhas primeiras poesias aos 14 anos, quando encontro na escrita um lugar de acolhimento e pra me expressar livremente. Sempre fui introvertida, então verbalizar sentimentos também era uma tarefa árdua. Mas na escrita havia conforto e ainda hoje é onde me entendo e me organizo melhor. O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias? Gosto de consumir arte: ouvir músicas, ver filmes, assistir séries, visitar espaços culturais. Tudo isso me ajuda a ganhar fôlego pra produzir mais. Também acredito que a vida é o maior combustível para a poesia. É preciso encará-la de peito e olhos bem abertos! Seu maior sonho como escritor(a)? Poder me dedicar inteiramente à minha arte. Seja produzindo, transformando a percepção dos leitores, ou ainda ajudando outras pessoas a se inserirem no mercado. 4 – Assunto preferido de escrever? Gosto de visibilizar vivências. Seja debatendo os meus atravessamentos, seja abrindo discussões para outros que também estão à margem. Um elogio para sua própria escrita? Acho que sou honesta com o que produzo. Isso implica em descortinar também minhas vulnerabilidades, para além da minha força. Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos? Publico de maneira independente, na Amazon, desde 2018, então atualmente tenho 5 livros lá: A TRILHA: Recomeços (2018), As Inverdades Nunca Ditas (2019), A-mar: poemas e prosas sobre o sentir (2020), Pyra: ironias poéticas que queimam (2021), Você Pra Mim É Lucro (2022). Também já participei de antologias com contos e poesias: Carcará: As Histórias Que Esqueceram de Contar (Editora Maria Bonita, 2020), Heroínas (Corvus, 2021), Poetas Negras Brasileiras (Editora de Cultura, selo ferina, 2021) e Farras Fantásticas (Corvus, 2021). Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita? Minha escrita se orienta pelo debate acerca das minhas interseccionalidades. Gosto de propor novas possibilidades e abrir espaço para que pessoas com meus atravessamentos possam prosperar. Tais reflexões são fruto da minha vivência e por isso, minhas inspirações estão no próprio cotidiano. Nas conversas com as pessoas na rua, no que vejo da janela do ônibus, nos obstáculos que encontro para acessar espaços etc. Qual dos seus poemas mais te define? Me considero uma pessoa em constante transformação e, portanto, não acredito em definições estáticas. Meus poemas tem retratos do que fui em um instante, do que busco, do que permanece… Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você? Escrever é orgânico, pra mim. É o meu lugar, como disse. Mas fazer-se palatável para os outros e decodificar essa linguagem para o público é sempre um desafio. Qual sua obra favorita de outro autor(a)? Olhos D’água, de Conceição Evaristo é uma obra que segue me marcando. Pela poesia da autora, que considero muito elegante e pela inteligência nos assuntos abordados. São contos e crônicas sobre o cotidiano, com conflitos difíceis de digerir e ainda assim, uma belíssima leitura. Um livro de Mariana Madelinn Nome da obra? Pyra: ironias poéticas que queimam. Quando e em qual editora foi publicada? Foi publicada de maneira independente, na Amazon, em Novembro de 2021 e em Novembro de 2022 ganhou uma publicação física pela Editora Pedregulho. Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual? Esse livro fala sobre sentimentos difíceis de digerir. A pyra é a fogueira grega onde queimavam cadáveres, então no livro ela assume o símbolo de expurgo desses sentimentos. Ele tem uma voz mais irônica e sarcástica, além de debater assuntos incômodos. As poesias são divididas em fases nessa obra? Se sim, o que te motivou a fazer isso? Como é um livro temático e com uma estética muito própria, ele é dividido em 4 partes: Faísca, Brasa, Incêndios e Mortes Diárias. Essas partes orientam os leitores acerca dos assuntos e intensidade dessa chama simbólica. É como eu também convido o leitor para imergir na experiência e proponho uma purificação, ao final da leitura. O que te incentivou a escrever esse livro? A poesia é uma constante na minha vida. Toda semana eu publico no meu IG @cantaravida e no Medium @mmadelinn, algumas dessas poesias. O livro surge de uma curadoria feita no meu acervo e sempre para criar novos debates. Nesse caso: poesia aborda apenas o belo e romântico? É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano? Gosto de “Me Respeita”, porque é uma poesia que aborda a busca pela minha voz. A menina silenciada se enxergando e criando seu próprio espaço. A sequência dos poemas conta alguma história? Passeando pelos capítulos citados, o eulírico: se apresenta, mostra como interage com o seu entorno, o que lhe atormenta e então, reflete sobre o que permanece. Existe algum posicionamento político ou cultural na obra? Tudo é político e o que produzo não foge disso. É uma mulher negra, bissexual e nordestina quem escreve. Isso se apresenta nas poesias, inevitavelmente. O lugar de onde falo é bem marcado e gosto que seja assim. Falo para as minhas e para criar conexão com elas. Qual a relevância dos personagens implícitos/explícitos da obra? A minha poesia tem um tom muito realista. Então não apresento personagens fictícios, nem faço menções diretas. Os pronomes são indefinidos, inclusive para que cada um interprete o sentido ao seu modo. Qual a poesia mais marcante desse livro? Não sei dizer se é a mais marcante, mas é a que durante as minhas apresentações em saraus causa mais efeito: Boa Noite, Cinderela. Sem categoria