Eu vi a espinha dorsal da memória Revista Kuruma'tá, 13 de fevereiro de 201922 de setembro de 2020 Texto de Toinho Castro Vídeo com trilha de Aderaldo Luciano e imagens de Toinho Castro A espinha dorsal da memória. Taí um título fantástico para um livro, ainda mais um livro de ficção científica. Quem escreveu essa joia foi Braulio Tavares, paraibano de Campina Grande. Achando pouco ser escritor Braulio é também poeta, músico/letrista, roteirista, dramaturgo e por aí vai. Trouxe A espinha dorsal da memória à luz e com ele foi ganhador do importante prêmio Caminho de Ficção Científica, em 1989, tendo sido publicado pela Editorial Caminho. Ou seja… 30 anos a serem celebrados agora em 2019. Trata-se basicamente daquele livro que todo mundo que curte ficção científica no Brasil já leu, ou quer ler. Acontece, para desgosto de muitos, que o livro anda esgotado. Sem edição comercial. E o que resta aos ávidos leitores do gênero? Os sebos ou os amigos que tenham coragem de emprestá-lo. sempre corre-se o risco de perdê-lo nessas operações de generosidade. A minha edição é essa aí da foto, da editora Rocco, que comprei num sebo da rua Buarque de Macedo, no Catete, o Beta de Aquarius. Esse livro é meio mágico, porque mais ou menos na metade ele vira outro livro. A quarta capa é, na verdade, uma outra capa de cabeça pra baixo. Chama-se Mundo fantasmo esse outro livro, de 1994. Um livro invertido, meio reflexo. Viraram circunstancialmente livros irmãos, emendados, siameses. O que os separa é um estranho símbolo que parece flutuar na página, indicando que nada é real. Não vou aqui tecer comentários críticos pois muitos já o fizeram; com mais propriedade que eu, diga-se. Deixo aqui meu relato pequeno, de leitor fascinado. De virar páginas e páginas e ir adentrando esse mundo sem volta, que não é a Paraíba, não é hoje, nem amanhã. Há algo de familiar em tudo, algo pop, não só pelas referências musicais mas pela cadência. Por ler e sentir que Braulio ouviu muitas das músicas que ouvi também, ou leu muita coisa que eu li ou quero ler, e reconhecer isso nas entrelinhas. Esse mundo sci-fi é algo pop, mas solene, e Braulio sobe como poucos mexer com esse equilíbrio de forças. No mais, li o livro de uma lapada só. Fiquei sem voz, sem palavras. Parecia que tinha lido em voz alta e gastei o que tinha a dizer. Ao escrever isso lembro dos tempos em que eu e meu amigo Roberval não tínhamos o que dizer dos livros que líamos. Apenas ficávamos surpreendidos, suspenso no ar. Eu vi o mundo fantasmo! Escreveu Guimarães Rosa no seu Grande sertão: Veredas. Era isso. O espanto encantado. Aí um olhava pro outro e dizia: Terminei de ler tal livro. Que livro! E assim não trocávamos opiniões, mas compartilhávamos o espanto. Pois então, que livro esse tal de Espinha dorsal da memória! E o Mundo fantasmo, que vem encangado com ele, também. Um é o labirinto do outro. Seria bonito uma edição nova, comemorando os 30 anos do Espinha dorsal, né?! Seria bonito esse livro de volta às prateleiras das livrarias, pra ninguém precisar roubar o exemplar dos amigos, como tenho certeza que ocorre. Capa da edição de 1996, que vem com o livro Mundo fantasmo Texto de Toinho Castro A Braulio tavaresFicção científicaLivroNordesteParaíba